quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

REVIVENDO A HISTÓRIA

JOÃO PEDRO DO JUAZEIRO E A XILOGRAVURA.

Há muito tempo atrás, na qualidade de sócia-honorária do IBAP – Instituto Brasileiro de Advocacia Pública, fui convidada a participar do VII Congresso Brasileiro de Advocacia Pública, realizado na cidade de Fortaleza, Ceará, entre os dias 30 de abril e 3 de maio de 2003. Era mais uma realização dos meus amigos procuradores do estado de SP, o  Guilherme Purvin e a Patrícia Werner. Na abertura desse evento, na noite do dia 30 de abril, houve um coquetel e uma ótima apresentação de cordelistas da região.
Lembro-me de que um dos artistas, o Guaipuan Vieira, criou um cordel especialmente para falar sobre aquele acontecimento. Algo muito bonito que eu guardo até hoje com carinho. Num dos versos ele dizia assim [...] Falo do VII Congresso/ Brasileiro, em Fortaleza/ De advocacia Pública/ Com programa de riqueza/ Onde as questões sociais/ Discutirão com firmeza [...A proteção planetária/ a biodiversidade/ Integridade genética/ a própria identidade/ O multiculturalismo/ Discutirão de verdade. [...]
Naquela oportunidade, tive a sorte de conhecer o xilogravurista João Pedro do Juazeiro e fiquei encantada com seus trabalhos em madeira. Conversamos bastante. Eu já acalentava o sonho – ou delírio! – de publicar algumas de minhas aulas escritas em formato de cordel. Já havia feito uma primeira tentativa com uma aula de Direitos Humanos, mas não conseguira encontrar na cidade de São Paulo algum xilogravurista. Daí uma amiga médica, a Goretti, - que adorava desenhar - só para me alegrar, fez um desenho bem bonito para a capa e assim foi feito. Ficou ótimo e eu fiquei feliz.
Então, aquele meu encontro com João Pedro, em Fortaleza, fora providencial. Contei tudo isso para ele que, na mesma hora , respondeu-me que, se eu lhe explicasse um pouquinho do conteúdo da aula, ele poderia produzir uma xilogravura apropriada para o tema. Eu já tinha escrito sobre o Sistema Único de Saúde – SUS. Feita a encomenda, ele prometeu-me enviar a arte para minha casa na cidade de São Paulo. E, de fato, o fez!
E assim nasceu o primeiro cordel paulista-cearense em prosa: com a arte de João Pedro do Juazeiro na capa e, em vez de versos, a aula em prosa da professora Inês! Maravilha!
Um pouco da trajetória desse artista cearense poderemos encontrar no endereço virtual citado abaixo. Bastará clicar:
Ali leremos a seguinte descrição: apresentação de João Pedro do Juazeiros:
O presente álbum traz xilogravuras do início quando fiz meus primeiros riscos na madeira mal lixada por falta de conhecimento e tacos de madeira sem serventia catados no chão que seria varrido ao lixo. Eu os pegava por não ter acesso a tacos bons e aproveitava (reciclava) com isso aprendi a reutilizar os defeitos da madeira transformando-os em efeitos e captando conhecimentos técnicos através da necessidade, que se pensa ser imprestável tem mais força e mais utilidade que o que se pensa ter grande valia. Estas gravuras, datadas do ano de 1998, são meus primeiros passos sem perspectiva alguma do corte da madeira, sem conhecimento de ferramentas a serem utilizadas, foram confeccionadas com total dedicação, com a maior necessidade de obter e desenvolver conhecimentos em que o instrutor era o imaginário e as instruções os tacos de madeira observados. Por falta de noção em seus vestígios fibrosos encontrava riscos, contornos e imagens que pareciam querer saltar da madeira me impulsionando a escavação para seu surgimento sem avidez, mas com cautela e medo de errar, com alegria e vontade de criar, inovar, apresentar ou dar vida a imagens adormecidas. O surgimento de um espaço e tempo num pequeno pedaço de madeira jogado ao chão que aparentava inutilizável, para mofar no chão ou ser queimado tornando-se cinzas a perder-se levado pelo vento sem deixar vestígios de sua existência. Porém o entalhe a tornou fecunda ilustrando livros, cartazes, cartões, álbuns etc. Retornando e rotando de si uma grande diversidade de existência através do imaginário e da matéria, através do toque das mãos de um simples gravador que só queria ser útil a arte, cultura, comunicação, ilustração e utilidade.” JOÃO PEDRO DO JUAZEIRO João Pedro de Carvalho Neto nasceu em Ipaumirim(CE), em 1964. Cresceu em Juazeiro do Norte e trabalhava como vendedor ambulante. Começou a fazer xilogravura na Gráfica Lira Nordestina. Fez exposição individual na Alemanha. Prêmio de gravura no Salão Norman Rockwell, em Fortaleza, em 1999. Mudou-se com a família para Fortaleza, onde faz da arte da gravura o seu trabalho diário. Incansável, já produziu mais 30 álbuns de xilogravura”.
Caso você leitor (a) queira entrar em contato com esse artista, o email dele é:joaopedrodojuazeiro@hotmail.com Ele, por exemplo, entre mil trabalhos, faz também ilustrações para cartões que você poderá enviar aos seus amigos.
Depois de finalizado aquele primeiro trabalho, encomendei-lhe outro. Desta vez, eu tinha escrito uma aula sobre o que é a instituição estatal denominada Ministério Público, da qual eu havia feito parte. Por telefone, expliquei ao João Pedro o tema e ele enviou-me pelos correios a arte. Mandei imprimir na gráfica e ficou uma belezura! Nisso tudo já estávamos no ano de 2004. Os três cordéis foram sendo distribuídos às alunas e alunos, gratuitamente, às centenas, sempre que eu – como voluntária – dava aulas sobre aqueles temas.
Passado algum tempo, decidi-me a escrever – também em linguagem coloquial – outras duas aulas: uma sobre a Constituição Federal e a outra sobre Justiça/Poder Judiciário. Falei sobre isso com o João Pedro, por telefone, e um tempo depois recebi dele as artes correspondentes. Só que eu ainda não havia revisado suficientemente meus textos e, então, guardei as xilogravuras para imprimi-las mais tarde. São lindas.
Nesse ínterim, todavia, chegou uma fase difícil para mim. Houve uma hecatombe em minha vida - como costumo dizer – e tive de parar com tudo que fazia. Já razoavelmente recuperada, no ano de 2009, pensei em editar os novos cordéis, porém não tive forças suficiente para empreender essa tarefa. Até hoje esse trabalho encontra-se on stand-by. Um dia destes, quem sabe, eu possa finalizá-los.
O mundo, como sabemos, dá suas voltas. Qual não foi minha surpresa quando, agora em meados do mês de janeiro, um site (www.brindesgratis.com) resolveu difundir que eu distribuía gratuitamente os cordéis e a partir de então passei a receber torrentes de emails solicitando remessa!!Tudo bem, de fato não cobro nada quando eu os distribuo pessoalmente. Todavia, agora tenho de fazê-lo pelos correios e isso dá um trabalho danado! Quem mandou eu não pensar direito nas consequencias, antes de escrever isso no meu blog, não é mesmo? Por enquanto até que está divertida essa missão. Veremos até quando terei fôlego.
Dessa movimentação, contudo, vieram coisas boas. Uma delas foi a seguinte: o xilogravurista João Pedro me reencontrou pela internet e enviou-me um email. Fiquei felicíssima! Contou-me que havia realizado uma exposição de seus trabalhos, no segundo semestre do ano passado, exatamente aqui na cidade de São Paulo, no espaço cultural da CEF da Praça da Sé. Clique no link abaixo se quiser saber mais sobre essa exposição.
Uma pena, mas eu perdi essa oportunidade.
Tudo isto me fez lembrar dos versos do Chico Buarque: “…Roda mundo/ roda gigante/ Roda moinho/ roda pião/ o tempo rodou num instante/ nas voltas do meu coração…”. Valerá a pena clicar no endereço abaixo e ouvir Chico Buarque bem jovem, cantando Roda Viva.
Viva a internet! Viva os Correios! E vivas à comunicação humana!

Inês do Amaral Büschel, em 26 de janeiro de 2011.
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A AUTORA: Ativista pela democracia e pelos direitos humanos, Promotora de Justiça de SP aposentada, sócia-fundadora do MPD (www.mpd.org.br), educadora popular, mãe, amante de livros, filmes, documentários e da boa música, cansada da administração doméstica. Ah, sou da geração 1968 do Largo São Francisco...
Fonte: http://blogdaines.wordpress.com/


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

CORDELTECA

Poetisa Dalinha Catunda, com o aval da ABLC, implanta na cidade de Ipueiras, no Ceará, nova CORDELTECA. A matéria que publicamos foi extraída  do fecebook de Dalinha.

Sábado com a presença do secretário de cultura Nelito Catunda e seu antecessor Tardeli, implantamos na cidade e Ipueiras, a 17ª cordelteca com o aval da ABLC, Academia Brasileira de literatura de Cordel. Neste evento cultural contamos com a presença do presidente da ABLC, Gonçalo Ferreira da Silva, que veio do Rio de Janeiro, com a presidente da ACC, Academia os Cordelistas do Crato, Anilda Figueiredo. Na ocasião, Anilda Figueiredo, foi convidada a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Literatura de Cordel, dando prosseguimento ao intercâmbio pelo qual tanto tenho lutado entre as academias: ABLC e ACC. Contamos também com a marcante presença da poeta cordelista Josenir Lacerda, uma das fundadoras da ACC, que muito tem me ajudado nesta interação. É ela, o fio da meada na construção desta teia. Josenir veio acompanhada do marido Miguel Teles e do filho Miguel Junho, braço forte na organização do evento. Tivemos ainda da Academia dos Cordelistas do Crato: Mana que animou a todos com sua energia e Luciano Carneiro cordelista e Mestre de Cultura, que como sempre deu um show com suas declamações. Na comitiva do Crato, destaco também as professoras, Franci e Liduina que fazem parte do Grupo Flor do Cariri e foram de suma importância para o evento. Não poderia deixar de citar o comparecimento de minha prima querida, Fátima Prado. Neste “Encontro de poetas cordelistas na cidade de Ipueiras” enriquecendo o evento tivemos o cordelista Elmo Nunes que veio de Poranga, e o poeta João de Reriutaba, que veio em comitiva. Meus agradecimentos aos amigos, as professoras e os radialistas que aqui estiveram prestigiando este Encontro de Poetas em Ipueiras.

Acesse também: http://www.cecordel.com.br

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Cordel Longe do fim 

Baú do cordel -  A Literatura de cordel está renascendo no Ceará. O presidente e fundador  do Centro Cultural dos Cordelistas (Cecordel), Guaipuan Vieira, comemora os esforços tomados pela entidade para manter a tradição de aproximadamente 80 anos do cordel no Estado. Com a morte anunciada por estudiosos da cultura popular,a literatura de cordel, segundo ele, passa  longe  fim”.

    Criado em 1987, através da iniciativa individual de Vieira, o Cecordel surgiu com a finalidade de reunir os cordelistas de Fortaleza e reativar a produção de folhetos que desde a década de 70 estava sumida do cenário cultural cearense.  As estratégias são mostras em escolas, centros culturais e feiras, intercambio com bibliotecas e universidades de outras estados e realização de oficinas para crianças e adultos, bem como uma banca para a venda dos folhetos no centro da cidade.

    A literatura de Cordel tenta aos poucos retomar seu passo de volta ao posto de  arte tradicional e genuína representante do folclore nordestino. A confecção de folhetos encomendados por políticos em época  de eleição e por agencias de turismo, para divulgação das atrações de Fortaleza, são outros meios que auxiliam na retomada da produção . O cecordel funciona ainda como uma cooperativa.  Da contribuição dos sócios –todos poetas – a cada mês, através de sorteio, são publicados dois títulos de cordéis inéditos. A entidade em 11 anos de existência, já publicou mais de 100 títulos.

   “Apostamos muito em divulgação nos meios de comunicação, como as revistas e jornais culturais”, acrescenta o presidente. Sobre isso, ele conta um fato curioso que ocorreu no ano da fundação do Cecordel. Nesta ocasião a rede Globo de Televisão estava no Ceará para a gravação do especial “O Último Cangaceiro” o Cecordel foi contatado pela Globo para emprestar alguns folhetos para a filmagem.  A entidade aceitou a tarefa e pediu em troca apenas a divulgação  do nome do Centro nos créditos do especial. “Ensinei  a atriz Letícia Sabatella a cantar os versos de Cordel”, lembro Vieira. O especial foi gravado, os folhetos do Cecordel filmados, atriz ensinada, mas, segundo ele, o nome não estava lá. Mesmo assim, o Centro não perdeu o ânimo.

      Uma enxurrada de estudos, dissertações e teses em universidades  de todo o País são fatos que comprovam o interesse das pessoas pela literatura de cordel. “O cordel cearense foi tema de teses até na Inglaterra”, festeja.(...)

 Adaptação

    Poeta e ex-presidente do Cecordel, Otávio Menezes, diz que o advento e modernização do meios de comunicação, como rádio,televisão e jornal, foram as principais causas da queda na produção original de levar informação, entretenimento e cultura ao povo nordestino. “Dos anos 30 à década de 60, a informação não chegava à casa das pessoas com a rapidez de hoje e a impressão e transporte dos jornais demorava dias”, explica. “ O cordel não está morrendo, está apenas se adaptando à transformações  da sociedade”.

    Obras como “Pavão Misterioso” e “João Grilo” chegaram a vender cerca de 80 mil  e 10 mil exemplares, respectivamente, na década de 40. Guaipuan Vieira calcula que hoje a produção chega no máximo a mil folhetos. Antigamente, os próprios  poetas viajavam léguas pelo sertão nordestino contatando e vendando seus poemas. Eles cantavam ainda com a ajuda dos folheteiros e pontos comerciais em mercados, feiras e estações ferroviárias.

     “As cidades estão desenvolvidas, movimentadas e as pessoas preferem assistir a TV ou ler revistas para passar o tempo e se informar”, afirma Otávio Menezes. O surgimento do mimeógrafo, do computador e da xerox também serviu para substituir as antigas tipografias com suas máquinas primitivas e caseiras, denominadas “suvaqueiras”. A produção dos folhetos hoje é basicamente domestica com a ajuda do computador e da fotocópia. “ A literatura de cordel estava precisando de uma reformulação para se adaptar, pois manter a tradição não é manter o atraso” salienta.

  Construção  

   As temáticas continuam praticamente as mesmas de 80 anos atrás. Fatos jornalísticos do momento, acontecimentos de repercussão nacional, como a morte de uma pessoa famosa, e notícias locais são temas preferidos. No linguajar do cordel, são fatos “de circunstancia” ou “de acorrido”. Menezes esclarece que a produção de temas globais foi reduzida, pois a TV, o rádio, o jornal já dão conta disso.

    Há ainda temática históricas e ficcionais. “Não pegamos somente o ato em si, que funciona apenas com espinha dorsal. Acrescentamos outros elementos com a rima, o humor e os gracejos”, explica. Títulos como “ Chegada de Lampião no Céu”, Mainha, o maior pistoleiro do Nordeste”, “A Morte do Rei do Baião” e “ A Mulher que deus à luz a seis meninas e uma vez” são apenas alguns exemplos da extensa lista das histórias contadas. As capas são sempre ilustradas com xilogravuras ou desenhos.

     Os folhetos têm geralmente oito e 16 páginas e são narrados em estrofes com seis versos (sextilha) ou sete versos rigorosamente metrificados.  Os títulos de ficção como temas  de aventuras e amor baseados na literatura medieval têm 32 ou 64 páginas e estão cada vez mais raros nos dias de hoje.

      Os custos para produção são altos para o poeta que, atualmente, não lucra quase na com a venda, pois a maior parte é distribuída. “Além disso, os folhetos longos exigem muita experiência do poeta para a condução do fio narrativo”, esclarece Menezes. Segundo o presidente do Cecordel, os gastos com a produção de mil exemplares comuns varia de R$180 a R$300 e mil folhetos de ficção chegam a custar o triplo. Os leitores mais assíduos do cordel em Fortaleza são estudantes –estimulados pelos professores -, pesquisadores, turistas e agricultores que chegam à capital. “Os folhetos também têm uma presença forte na região do Cariri, principalmente Juazeiro do Norte, e em Canindé, vendidos durante as festas religiosas”, ressalta Guaipuan Vieira. Para Otávio Menezes, os temas preferidos continuam sendo os engraçados, jocosos e galhofeiros.

   “Para atrair o leitor, o título tem que ser interessante e criativo, ter uma boa ilustração na capa, a história linear, bem contada., versos concatenados, bem cadenciados e rima perfeita”, acrescenta o poeta.


 Benedito Teixeira – Gazeta Mercantil -Terça-feira,06/01/1999

Acesse: www.cecordel.com.br