sexta-feira, 21 de junho de 2013

BANCA NACIONAL MAIS UMA VEZ APREENDIDA (HÁ UM ANO)



 A CULTURA POPULAR PEDE SOCORRO

UM APELO AOS QUE VALORIZAM A CULTURA POPULAR


BANCA NACIONAL DO CORDEL MAIS UMA VEZ APREENDIDA
VAI FAZER UM ANO



            Esta é a BANCA NACIONAL DO CORDEL, um equipamento do Centro Cultural dos Cordelistas do Nordeste – CECORDEL.
O CECOEDEL é uma entidade cultural, fundada em agosto de 1987.  Há mais de 25 anos, nossa entidade produz, incentiva e luta por mais valorização da cultura popular expressa no cordel e no repente do cantador.
A entidade nasceu de um grupo e poetas que se reunia ao redor de uma banca no centro da antiga praça do Ferreira, em 1987. Quando a praça passou pela reforma, a Fundação Cultural de Fortaleza, que lá funcionava, não teve interesse para instalar um box de cordel, que ficaria sob a responsabilidade do Cecordel. Transferiram a banca para praça dos Voluntários, onde ficou até 1994, quando foi levada pelo caminhão da Emlurb.
            Tentamos junto à SER II, a legalização da banca e a sua volta mas nada foi feito.
      Fomos atrás da inciativa privada para o patrocínio de uma nova banca. Conseguimos a adesão da Fundação Demóçrito Rocha, que nos doou a banca. O poeta Barros Pinho (in memorian), então presidente da Fundação Cultural de Fortaleza, nos cedeu um espaço no Largo dos Correios, no centro. Inauguramos a Banca (v. Foto). Como o lugar se  tornou insuportável, devido o barulho, fumaça de churrasco, solicitamos à administração municipal para transferir para a praça vizinha – Valdemar Falcão. Isso em 2010. Ficou lá até julho de 2012. Mês em que foi apreendida pela SER- Centro. Dia 13/07/2012, Gerardo Frota (Pardal), presidente do Cecordel, protocolou nessa secretaria, solicitando a devolução da banca. O que foi atendido
Em 31/7/2012, foi dada entrada no protocolo, dessa mesma secretaria a solicitação do espaço para que a banca volte a funcionar, sendo procedida a sua regulamentação a fim de que não seja repetido este mesmo constrangimento. O protocolo desta solicitação está sob o n. 1707155938910/2012.
            Com este breve histórico, o Cecordel  está procurando alguma pessoa amiga, autoridade que seja sensível a esta causa a fim de que possa nos ajudar junto ao secretário da SER-Centro a reabilitar nossa Banca. A cidade de Fortaleza é quem ganha com a presença  da banca de cordel numa de suas  praças, mostrando com isso que valoriza a cultura do seu povo.


Gerardo Carvalho Frota (PARDAL)
         Presidente CECORDEL

domingo, 9 de junho de 2013

JUVENAL EVANGELISTA SANTOS
UM PROPAGANDISTA DO VERSO 


Por Guaipuan Vieira

 Até o final da década de 90, o poeta repentista Juvenal Evangelista Santos, vendia em Teresina, Piauí, em uma Kombi usada, cordéis e fitas de cantoria. A espécie de banca móvel, logo chamava à atenção da clientela, pelo som que saía de uma amplificadora instalada no teto do veículo. Mantinha-se no centro da cidade, na Praça Marechal Deodoro da Fonseca, mais conhecida como Praça da Bandeira, próximo do Mercado Central, da feira do troca-troca, ponto estratégico para aquele misto de propagandista e folheiro vender o cordel e manter a preservação desse gênero literário que resistia ao avanço da era moderna. Nas minhas visitas a Teresina, sempre conversava com o velho poeta. Em 1985 informou-me que vivia contra o tempo, mas resistindo aos grandes veículos de informação: “Sei que o cordel é ignorado por muitos. Quem ainda compra, pingando, é a velha geração. Precisa que alguém mais jovem e do ramo, faça algo em prol da nossa cultura, porque ela está agonizando”. De fato, pesquisadores já anunciavam sua morte.  O desabafo em forma de profecia vinha do experiente poeta paraibano e radicado na Verde Capital piauiense. 33 anos de profissão. Falou-me ainda, que tinha projetos para a publicação de um livro (coletânea de cordéis). Fez referência ao Festival de Violeiros de Teresina, evento cultural criado pelo professor Pedro Mendes Ribeiro, e que ganhava notoriedade em todo o Nordeste. Hoje, um expoente dessa arte no Brasil. Juvenal, mesmo sem perspectiva de melhoria de venda do cordel, resistia em manter essa literatura. Em contra-partida, a poesia de autores piauienses era estudada na Europa. A notícia fora veiculada nos jornais O Dia,  de 18/19 de
agosto e O Estado,  de 15 de agosto, ambos de 1985, que destacavam pesquisas de mestrado e doutorado dos franceses Charles Piriou e Andréa Ghighi, da Universidade de Paris, bem como da existência de trabalhos franceses sobre a Literatura de Cordel. Mas a literatura de bancada, exceto as exceções desses poetas, até a metade da década de 80, servia de simples peça de museu. De Juvenal Evangelista, destacamos os cordéis: O MÁRTIR GREGÓRIO, MARCHA DO MUNDO –UM CONSELHO PARA UMA NAÇÃO SER FELIZ, O PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA, FESTIVAL NO MARANHÃO, O FILHO QUE MATOU A MÃE (CABEÇA DE CUIA), O MÁRTIR DA NOVA REPÚBLICA (VIDA E MORTE DE TANCREDO), BATALHA DO JENIPAPO e COMETA DE HALLEY. O poeta mudou-se para Boa Vista-RR, e segundo seus familiares sentia-se feliz pelo renascimento da arte que tanto defendeu. Faleceu em 2000, naquele estado, deixando um rico acervo de cordel. Parte desse material está no arquivo do Cecordel
.

sábado, 8 de junho de 2013

      ADAGIÁRIO NO CORDEL 
HOMENAGEM A LEONARDO MOTA

















O folclore é arte, é vida
Conjunto das tradições,
Das crendices e das lendas,
De um país, suas gerações;
São adágios e provérbios,
O ninar e entre canções.

O folclore está presente
Em tudo que é popular,
Esse termo William Thoms
Em Londres fez registrar
Para os anais da história
De seu povo e seu lugar.

No Brasil, Leonardo Mota,
Com grande dedicação,
Percorreu o país inteiro
E fez toda anotação
Dos adágios brasileiros,
Registro em primeira mão.

Para o doutor folclorista
Eu presto minha homenagem,
Neste folheto de feira,
Que também é reportagem.
Já foi jornal do sertão
E preserva sua bagagem.

Pois vovó sempre falava,
Nesse doutor folclorista,
Que em certa ocasião
Foi-lhe fazer entrevista,
Em Currais no Piauí,
Na fazenda Boa vista.

As histórias bem contadas,
Na minha rima eu percorro,
Conforme vovó falava
Pra papai e mãe Socorro:
“Mais vale um cachorro amigo
Do que um amigo cachorro.”

Ela pitando o cachimbo,
Os adágios nos dizia:
“Cachorro que acua alma
Não é boa freguesia
É como mulher que trai
O marido à luz do dia.”

Pois dizia haver três coisas
Que não podem consertar:
“Cachorro que pega bode,
Mulher que passa a errar,
E o homem que é mentiroso
Não se deve confiar”.

E com sua linguagem farta
Da boa expressão popular,
Quando algo era mal feito,
Sempre tinha o que falar:
“O costume do cachimbo
Que faz a boca entortar”.

Há coisas que, nem agouro,
Dizia ela, que atormenta:
“É se ter um mal vizinho,
Que nem o diabo aguenta.
Uma casa com cupim,
Ou então mulher briguenta.”

E continuava a prosa
Com aquela sua perfeição:
“Dizia que há ciência
Pra pegar boi e ladrão:
Pelo chocalho do outro,
Sabe a sua posição.”

À noitinha ela rezava
Tendo o terço em sua mão,
Ao seu lado a filharada,
Juntos faziam o refrão,
Mas antes de nos benzer
Tinha uma forte oração

“Deus te livre de sezão,
Tosse braba ou catapora;
Do sarampo e coqueluche
Que o vento trás lá de fora
E da queda de espinhela,
Dor perversa que demora”.

“Deus te livre de caxumba,
Da sífilis nem pensar,
Barriga d’água ou gastrite,
Nó na tripa ou calazar;
Do maldito reumatismo
Que faz o cristão penar”.

Depois da reza dizia:
“Só assim Deus nos defende
Dos males que há na vida
Que, pelo mundo, se estende.
Dormimos pra acordar cedo,
Quem mais vive mais aprende”.

Quando o sol, por trás da serra,
Deslumbrava a linda aurora,
Acordava a filharada,
Dizendo já está na hora:
“Quem precisa é quem se estira,
Quem não quer é quem demora”


(Folheto com 8 Páginas,31 estrofes)
Autor: Guaipuan Vieira. Membro da Academia 
Brasileira de Literatura de Cordel - ABLC,
Cadeira número 19, Patrono: Leonardo Mota.
ACESSE:
http://www.cecordel.com.br/