segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

SITE DO CECORDEL COMPÕE ACERVO DA LIBRARY OF CONGRESS

O Site do Cecordel www.cecordel.com.br e blog compõem o acervo da Biblioteca do Congresso Americano. Desde 1966, a Biblioteca do Congresso vem adquirindo cordéis para o AMERICAN FOLKLIFE CENTER com um acervo atual de quase 10.000 cordéis em papel. Segundo a Folklife Hoje é cada vez mais comum os cordelistas publicarem o cordel em formato digital via websites e blogs, portanto, é importante que as bibliotecas desenvolvam uma estratégia de arquivamento desse valioso material.

“A colaboração neste projeto é possível, em parte, devido à presença  do escritório da Biblioteca do Congresso Americano no Rio de Janeiro. Desde 1962, a Biblioteca do Congresso mantém escritórios no exterior para coletar, catalogar, preservar e distribuir publicações e materiais de pesquisa de países onde esses materiais não são disponibilizados através de métodos convencionais de aquisição. O grupo de consultoria Brazil Cordel Literature Online (BCLO) é responsável pela escolha de sites para incluir no arquivamento. A Biblioteca do Congresso está em parceria com as seguintes instituições no Brasil e nos EUA para determinar os melhores sites para inclusão neste projeto: Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP); Fundação Casa de Rui Barbosa; Universidade Estadual da Paraíba; Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo; Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ); Universidade do Novo México, Universidade de Wisconsin e Ibero- Amerikanisches Institut.”

 “Nossos arquivos de web são importantes porque contribuem para o registro histórico, capturando informações que poderiam ser perdidas. Com o crescente papel da Web como um meio influente, registros de acontecimentos históricos podem ser considerados incompletos sem os materiais que foram originados digitalmente e nunca impressos em papel. Para mais informações sobre essas coleções de arquivos da web na Biblioteca do Congresso Americano, visite nosso website (http://www.loc.gov/webarchiving/).  Este é o segundo arquivamento de sites coletados no Brasil pelo escritório da LC no Rio de Janeiro em colaboração com instituições brasileiras. Em 2010, 46 sites relacionados à eleição presidencial brasileira foram arquivados. Esta coleção está sendo processada e esperamos que esteja disponível on-line em um futuro próximo.”



quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O Centro Cultural dos Cordelistas-CECORDEL realizava em 1988 a 2º Exposição de Literatura de Cordel e de Xilogravura. A exposição perdurou por 6 anos em Galerias de Artes em Fortaleza. A iniciativa do poeta e escritor Guaipuan Veira, à frente de um grupo de anônimos cordelistas, fez renascer essa literatura em todo o Nordeste brasileiro. Participaram dessa Exposição, os poetas: Joaquim Batista de Sena, Jotamaro, Otávio Menezes, Gerardo Carvalho(Pardal), José Maria de Freitas, Guaipuan Vieira, Costa Sena, José Caetano da Silva(repentista), José Ferreira Neres, Afonso Nunes Vieira, Zé Limeira de Fortaleza,  Antonio Jocélio e Horácio Custódio(repentistas). Homero Alves da Silva, Vera Maria Oliveira, Maria Luciene, Ana Jucá, Maria Felicidade, Vescêncio Fernandes, Dimas Mateus (Repentista) Zé Calixto, Marreco, Zizi Gavião (emboladores de coco). Poetas que cantam e decantam o cotidiano do povo brasileiro, especificamente o Nordeste, um território que sofre as secas dolorosas, que fazem famílias migrarem para outras regiões do país, em busca de sobrevivência e protegidos pelo Deus dará. O cordel continuará porta-voz da gesta nordestina.


Acervo: Cecordel ( proibido reprodução sem citação dos créditos)

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

                                                 http://radiopitaguaryam.com/player.html

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O POETA HERMES VIEIRA, 102 ANOS

Por Guaipuan Vieira
     
Hoje, 23 de setembro de 2013, registramos a data de nascimento de uma das maiores expressões da poesia popular piauiense, Hermes Vieira. Poeta, indianista e folclorista.(foto:Maio/2000) Nascido em 1911, em Elesbão Veloso, município da cidade de Valença, Piauí. Filho de Raimundo Rodrigues Cardoso Vieira e de Joaquina de Sousa Viana, pequeno latifundiário, que tangido pelas secas periódicas deixara a lavoura e sobrevivera curtindo pele de animal de criação. Naquela época a família residia no distrito de Palmeirais. Hermes aos oito anos de idade, a exemplo dos irmãos mais velhos, ajudava o pai. Somente aos treze anos foi matriculado numa Escola em Cajueiro, distrito daquela região. O trajeto de doze quilômetros era feito de segunda a sexta-feira, a lombo de burro ou a pé. Uma de suas virtudes era admirada por sua professora, Rosa Lima, pois aquele menino pobre aproveitava o recreio para fazer o dever de casa, como predestinado pelo destino. Haja vista que a família sem recursos financeiros, não teve mais condição de pagar seus estudos. Mas os seis meses de escola foram suficientes para que aprendesse a ler e escrever. Soube aproveitar as instâncias da vida, tornando-se um autodidata e poeta possuidor de uma poética com estilo próprio. HOJE SE VIVO FOSSE ESTARIA COMPLETANDO 102 ANOS DE VIDA.  Saudemos este imortal poeta com seu poema O ANALFABETO extraído de seu livro NORDESTE. Um clássico da literatura popular: 

                                                   Foto: Raimundo Rosa(Cazé), década de 80

O ANALFABETO

Meu patrão, rãincê tá vendo
Este pé de jatobá
E esses resto de parede
Dendro desses bamburá?

Apois foi nessa tapera,
Amarrado neste pau,
Qui mataro, já fáiz ano,
O caboco Niculau.

Isto aqui já foi fazenda
Dum preverso Zé Ribêro,
E prevesso tombém era
Chico Neto, seu vaquêro.

Esse causo foi assim,
Vou conta p’u coroné,
Qué p’a mode rãincê vê
Cum’as coisa do mund’é.

Um subrim de Zé Ribêro,
Um xujeito tombém mau,
Deu de taca, sem mutivo,
Num rimão de Niculau.
  
Niculau, sabendo disso,
Um manguá meteu na mão
E vingou, no mêrmo dia,
A disfeita do rimão.

No momento inda fizêro
Uma gruía com o rapáiz
Mais, dispois isfriou tudo,
E fizéro novas páiz.

Mais, um dia, Niculau
Pricisou de viajá
P’a fazenda “Vaca Morta”
Ponde vamos nóis passa.

Quando sobe da nutiça,
Esse tá de Zé Ribêro
Pidiu ele qui levasse
Um biête p’u vaquêro.

Niculau pegou o biête
E siguiu no seu camim;
Era  um dia de verão,
Num dumingo bem cedim.

Quando o dia foi morrendo;
Niculau aqui chegou
E o biête qui trazia
Ao vaquêro ele intregou.

Esse, antão,cum cara santa
De quem tem bom coração,
Féiz o pobe do rapáiz
Tira a sela do alazão.

E dispois ele fêiz tudo
Pra seu hóspe s’inludi:
Lhi deu ceia cum fartura
E uma rede p’a drumi.

Mais porém quando drumia
Sono carmo d’inucente,
Chico Neto cum dois caba
Lhi pegáro de repente.

E na luiz de uma foguêra,
Amarrado neste pau,
Chico Neto, carmamente,
Foi matando Niculau.

Cum siá faca bem molada,
Esse mau, sem coração,
Arrancou do pobe o zói
E adispois cortou siás mão.

E do corpo da rapáiz
Foi seu sãingue s’isgotando,
E o marvado ria dele
Desse jeito s’cabando.

Adispois lhe preguntou,
Todo cheio de prazê:
-Niculau, você já sabe
O pur quê qui vai morre?

Niculau, nesse momento,
Cuma ponta de arfinete,
Biservô batê na mente
A lembrança do biête.

Mêrmo assim já quaje morto,
Cum seu corpo insãinguentado,
Niculau, cum vóiz baxinha,
Respondeu p’u disgraçado:

-O mutivo d’eu morre...
Eu bem sei...seu Chico Neto
Tá disgraça...só si deu...
Pruqu’eu sou...anafabeto...

Cuma é triste, coroné,
Um cristão assim morre
S’intregando ao assassino,
Pruque não sabia lê!!


terça-feira, 3 de setembro de 2013

UM SANFONEIRO CEARENSE E LUIZ GONZAGA

       Por Guaipuan Vieira*
      
Era sexta-feira, 15 de março de 1991, o forrozão da Rádio Pitaguary “acordava” a população da grande Maracanaú e adjacências. Bate-papo com o ouvinte, informações chegadas dos principais jornais da capital alencarina, aviso do horário de trens de passageiros vindos das linhas sul e norte a Fortaleza. O efeito sonoplástico da locomotiva em movimentação e buzinando, chamava a atenção do ouvinte. Outros efeitos discorriam na programação: galo cantando, vaca berrando, cachorro latindo e cancela rangendo. Era o sertão transcrito nas ondas do rádio, das 5h às 8h, de segunda a sexta-feira.
       Entre o bate-papo com o ouvinte no ar, um telefonema soava com o refrão de falar na linha interna. Era do músico Careca da Sanfona, que me fazia um convite para uma feijoada na sua residência ao som de forró pé-de-serra.  Ele era ouvinte assíduo. Silente ao longo dos anos vinha acompanhando aquela programação, a exemplo de muitos outros que se mantinham ocultos.( Foto: Careca recebendo troféu de 1º lugar, do então prefeito de Maranguape, Raimundo Gomes de Matos e do representante da  Pepsi Cola, em Fortaleza). 
      Sábado às 10h, eu chegava à residência daquele sanfoneiro, no bairro Montese, em Fortaleza. Não precisei apertar a campainha, o portão estava aberto, com entre e sai de músicos e convidados.  Logo avistei um senhor de estatura média, cor branca, forte e careca, tocando uma sanfona de 80 baixos, com um regional.  Ao meu encontro veio uma senhora de estatura mediana, cor branca, esbelta e educada. Ao saudar-lhe com meu bom dia, e identificar-me, ela sorriu e exclamou: “o Raimundo achava que o senhor não viria, seja bem vindo!” Era sua esposa, dona Zélia, que não lhe chamava pelo pseudônimo. Subitamente foi até ao marido e cochichou-lhe ao seu ouvido. Careca na simplicidade de nordestino, como se me conhecesse pessoalmente há anos, cumprimentou-me ao som da sanfona e apresentou-me aos convidados. Em seguida tocou um choro e um forró, todos de sua autoria. Com isto, fez uma parada para um outro sanfoneiro tocar.  Saiu a passos lentos prosando com um e com outros. Sentou-se ao meu lado e puxamos um fio de prosa. Nisso dona Zélia nos chamou para saborear a feijoada. Ao término, careca levantou-se, foi até um mostruário, pegou um chapéu de couro, alguns recortes de jornais, voltou à mesa e começou a narrar histórias de suas apresentações pelo Brasil. Naquele momento descobria que estava diante de um personagem que escrevera algumas páginas da história do forró pé-de-serra, no Nordeste, especialmente no Ceará. Esse sanfoneiro, ao longo da carreira artística teve uma a agenda lotada, tocava para turistas europeus, sobre contrato de hoteleiros da orla marítima. Nas festas juninas, no começo do ano já estava contratado para tocar em grandes eventos em Fortaleza e em outros Estados do Nordeste.
      Na década de 80 viajou para o sul do país, onde se apresentou no programa Som Brasil, na TV Globo, apresentado por Lima Duarte, que substituía Rolando Boldrin. Foi um sucesso marcante na vida dele.  Careca tinha todo o repertório de Luiz Gonzaga, imitava o Rei do Baião, que por circunstancia do destino, em 1962, numa casa comercial na rua Guilherme Rocha, em Fortaleza, sem sabumbeiro e aflito para gravar um comercial para a TV, saíra às pressas em busca desse tipo de músico, quando de súbito fora surpreendido com uma voz nordestina que bradava forte: “QUÉ QUI HÁ CARECA?!” Era Luiz Gonzaga. Naquele instante, o mesmo explicou-lhe o vexame que passava. Luiz, humildemente, sem marcar distância, perguntou-lhe: “você tem o zabumba?” Ele meio acanhado, confirmara que sim, e Luiz concluiu: “então vamos tocar!”
         Por alguns minutos o REI DO BAIÃO fora zabumbeiro desse cearense da lagoa de Juvenal, Maranguape.  Após a gravação do comercial, recebia do Rei, um chapéu de couro - este que estou usando na foto-, como recordação daquele encontro. Foi o maior prêmio que um artista como ele poderia ter recebido. Um troféu inesquecível que passou a usar em suas apresentações. (Foto: Luis Gongaza tocando zabumba)

        Nos Festivais de Sanfoneiros, que perdurou os anos de 1991 a 1993, na cidade de Maranguape, sobre o auspicio da prefeitura daquele município. Projeto idealizado por mim, com apoio da Rádio Pitaguary, aquele artista sempre conquistava o primeiro e segundo lugar. Ressalva-se que a comissão julgadora era formada de músicos conceituados, desses, representantes do Conservatório Alberto Nepomuceno e da Ordem dos Músicos do Brasil, secção do Ceará e de compositores e intérpretes cearenses, com Dílson Pinheiro e Carlos Castelo. Tornei-me o apresentador daquele evento que conquistou público de toda região metropolitana. Oportunidade em que conheci Carlos André, Sirano, e tantos outros artistas que ali alegraram a grande multidão, antes da apresentação do festival tão esperado por aquela gente que tomava a Praça Capistrano de Abreu, localizada, no “coração” de Maranguape.(Foto: Este chapéu que estou usando, Careca recebeu do Rei do Baião).

       Careca nasceu na Lagoa de Juvenal, Maranguape, em 28/08/1928. Seu pai era músico, tocava violão e rabeca. A exemplo de muitos sanfoneiros começou a tocar com sete anos de idade. A experiência primeira foi no violão, posteriormente começou a tocar sanfona, não mais deixou o oficio. Não gravou nenhum disco, em contra partida, na década de 90 gravou algumas composições suas, no estúdio da Rádio Pitaguary, posteriormente o radialista Rômulo, da FM Universitária, também gravou parte do repertório de Careca.  Até junho de 1998 tocou com sucesso em grandes eventos. Ainda naquele ano, submetera-se às pressas a uma cirurgia que lhe deixara abalado fisicamente. Mas atendera meu convite para se apresentar no Auditório do Sesi, em Fortaleza, quando no lançamento do canal da TV FUTURA, parceira desse órgão Social da Indústria do Ceará.  Sua última apresentação em público. No inicio de dezembro de 1999, foi internado às pressas com complicações de saúde, vindo a falecer no dia 17 de dezembro daquele ano. Homenagens lhe foram prestadas pelos sanfoneiros Clementino Moura, Rodolfo Forte, dentre outros músicos admiradores daquele velho tocador.

       * Em 1990 saía da Ceará Rádio Clube e ingressava na também dileta equipe da Rádio Pitaguary, em Maracanaú-Ce, região metropolitana de Fortaleza, emissora do empresário Roberto Pessoa, hoje político conceituado no certame cearense. Apresentava de 6h às 8h, o programa Canto Sertanejo, forró pé-de-serra, intercalado de notícias e entrevistas. Aos domingos de 10 às 12h, o programa Rancho Alegre, um encontro com sanfoneiros e artistas da terra. Em 1992 passou a apresentar também o programa A Noite é Nossa de 21h às 00h, musical eclético, bate papo com o ouvinte e a notícia. Continua apresentando o programa Canto Sertanejo.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

PROFESSORA UNIVERSITÁRIA
 LANÇA LIVRO SOBRE CORDEL

    A Editora Appris acaba de lançar uma excelente obra sobre a literatura de cordel. Trata-se da tese de doutorado em Letras, da professora Maria Elizabeth Carneiro de Albuquerque (Beth Baltar), da Universidade Federal da Paraíba. 
O trabalho foi fruto de experiência com docentes do Departamento de Ciência da Informação daquela universidade. O conceito utilizado foi a semântica discursiva como metodologia para indexar folhetos de cordel.  Segundo a professora, “esta metodologia garante que um mesmo sistema ou sistemas afins, usem conceitos para representar documentos semelhantes, o que irá facilitar a comunicação entre o indexador, o usuário e o sistema com a utilização de um mesmo vocabulário”.
 A obra já está à venda no site da Editora: http://www.editoraappris.com.br 

Contato com a autora através dos blogs: 
ACESSE TAMBÉM: http://www.cecordel.com.br/
Contato: cecordel@yahoo.com.br

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

MORRE REPENTISTA TOTA

 
    Através do Facebook da Casa do Cantador, recebemos a notícia do falecimento do poeta repentista Antônio Barbosa Sobrinho (TOTA), ocorrido no dia 25 de julho de 2013, em Fortaleza, Ceará. Era filiado a Associação dos Cantadores do Nordeste -ACN, que tem sede no bairro do Carlito Pamplona, em Fortaleza. Segundo o presidente daquela casa cultural, poeta Dimas Mateus, seu sepultamento ocorreu através da ACN, com apoio de poetas filiados, devido à família não possuir recursos financeiros. E acrescentou: “O som de sua viola continuará gravado em alguns meios, dentre eles no coração da arte popular nordestina”. 

O poeta Guaipuan Vieira, surpreso com a morte do amigo, escreveu:


Velho Tota, velho amigo,
Neste meu verso que digo:
Enfrentava até perigo
para cantar seu repente;
Foi um poeta decente,
Na arte de versejar,
Agora já vai cantar
Para o grande Onipotente.

O som  de sua viola
Foi verso de uma escola,
Rima rica que decola,
Nos ares com harmonia;
Que santa musa extasia
Os ecos do improviso,
E no céu, grande Juízo,
Quis ouvir sua poesia.

ACESSE TAMBÉM: http://www.cecordel.com.br/
  

quarta-feira, 31 de julho de 2013

CORDÉIS DE HELDER CAMPOS


    










    O ASSOMBROSO CASO DO RAPAZ  QUE SE APAIXONOU POR UMA FALECIDA e  A FILHA DO PATRÃO, são dois cordéis de autoria do poeta Helder Campos, de Palmácia, Região do Maciço de Baturité, Ceará. O poeta descreve a temática típica da Literatura de cordel. Estrofes do Assombroso caso do rapaz...

No ano de trinta e quatro
Fortaleza era a cidade
E Parangaba o distrito
Aconteceu de verdade
Um romance pavoroso
Mas de grande intensidade.

Um rapaz de nome Alberto
Conheceu uma donzela
Muito Bela por sinal
Que tinha o nome de Estela
Lá toda noite ele ia
Para namorar com ele.

Se encontravam numa praça
Que naquele bairro havia
Alberto se apaixonou
E isso nunca acontecia
Passava o dia a pensar
Dela jamais se esquecia.
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Estrofes de A filha do patrão:

Numa pequena cidade
Do sertão do nosso Estado
Aconteceu um romance
Algo muito comentado
Por quem viveu nesse tempo
Pois foi muito divulgado.

Um rapaz de nome Heleno
Pobre, porém muito honrado
Conheceu um linda moça
Foi o seu maior pecado
Já que esse envolvimento
Trouxe muito desagrado.

O nome dela era Alzira
Nobre e formosa donzela
Nunca antes na região
Viveu mulher como aquela
Dona de rara beleza
Era uma uma linda gazela.

Cordéis com 8 páginas,31 estrofes. Edições de 22 de junho de 2013. Apoio cultural do CECORDEL.

                         
            Contato com o autor: helder1962@yahoo.com.br

sexta-feira, 26 de julho de 2013


MORRE O HERDEIRO DE LUIZ GONZAGA

Por Guaipuan Vieira*


  Em 1992 Dominguinhos esteve em Fortaleza-CE, cumprindo agenda de shows. Foi a oportunidade que tive de conhecê-lo pessoalmente e entrevistá-lo para a Rádio Pitaguary, programa Canto Sertanejo, apresentado por mim. Testemunhei a simplicidade, humildade daquele músico, decantado pela grande mídia, tido como herdeiro do trono musical de Luiz Gonzaga. Mostrou-se preocupado com o sanfoneiro nordestino, observando que muitos abandonavam a profissão por não viverem da arte. Falou do surgimento de novos ritmos, esclarecendo que o forró se mantém por ser uma cultura nordestina que encanta a todos, mas que o sanfoneiro não fica imune de aprimorar cada vez mais os seus conhecimentos.

VIDA & CARREIRA

   José Domingos de Moraes, Neném, ou seja, Dominguinhos, nome batizado por Luiz Gonzaga, por achar que não seria um bom nome artístico, nasceu em 1941 na cidade de Garanhuns-PE. Seu pai, o mestre Chicão, era sanfoneiro e afinador de fole, famoso naquela região. Dominguinhos aos 6 anos expressou o dom da música, tocando pandeiro. Aos 8 anos, com os irmãos Moraes, na sanfona e Valdomiro, na zabumba, formou o trio OS TRÊS PINGUINS, e passaram a tocar em feiras e hotéis na capital pernambucana. Em 1948, em uma de suas apresentações, no Hotel Tavares Correia, conheceu Luiz Gonzaga, que ficou impressionado ao vê-lo dominar bem aquele instrumento de sopro (acordeon). Luiz lhe deu dinheiro e seu endereço no Rio de Janeiro, expressando naquele gesto de nordestino irmão, que podia contar com seu apoio. Luiz era possuidor dessa grande qualidade humana. Dominguinhos vocacionado pela música, em 1950 começa a tocar sanfona de oito baixos, e inspirado no irmão mais velho, em 1952, passa a tocar acordeon. Mas a difícil vida no Nordeste sempre migrou muitos nordestinos para o sul do país, em busca de um uma vida melhor. Com Dominguinhos não foi diferente. Em 1954 segue com o pai e seus irmãos para o Rio de Janeiro, levando no bornal de esperança o endereço de Luiz Gonzaga. Tudo foi transcorrendo aos passos do destino. Seu pai, Chicão, recebeu de Luiz uma sanfona. Dominguinhos aos pouco foi se familiarizando com o novo mundo, sem deixar de visitar a casa de Luiz Gonzaga. No cenário artístico foi conhecendo grandes nomes da música nordestina, como Marinez, Zito Borborema e o Zabumbeiro Miudinho. Com os dois últimos chegou a criar o Trio Nordestino, e passou a tocar em circos e em arrasta-pés em alguns municípios daquele estado. Em 1964, gravou o primeiro disco FIM DE FESTA, pelo selo Cantagalo. Para alguns críticos da música, este disco descrevia sua identidade artística, ganhando notoriedade na arte. Em 1972, passou a ter nova experiência com outros estilos musicais, quando participa do show Índia, de Gal Costa, e Refazenda, de Gilberto Gil. Entre outros shows feitos a convite de diversos artistas da música popular brasileira, com Caetano Veloso, Chico Buarque, Sivuca, enfim, um artista reverenciado por todos.

MORTE


   A notícia da morte do exímio sanfoneiro, cantor e compositor, não pegou a população brasileira de surpresa, o músico há seis anos se tratava de um câncer no pulmão. Em 17 de dezembro de 2012, teve complicações, e foi internado às pressas na Unidade de Terapia Intensiva Coronariana do Hospital Santa Joana, no Recife. Em 13 de janeiro de 2013, a pedido da família, segundo a ex-mulher de Dominguinhos, a cantora e compositora Guadalupe Mendonça, foi transferido para o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, permanecendo até o seu falecimento que transcorreu dia 23 de julho deste ano, aos 72 anos, deixando uma rica bagagem cultural e a conquista do prêmio Grammy Latino, em 2012.

HOMENAGEADO POR ARTISTAS

     Nos últimos dias venho acompanhando via parabólica, a programação da TV Nordeste, no Recife. Ontem (24), transmitiram cenas de homenagens a Dominguinhos, feita por diversos músicos no Festival de Inverno, realizado na Veneza brasileira. A TV foi às ruas da grande cidade e ouviu o povo cantar os sucessos do ilustre filho pernambucano. Entrevistou Genival Lacerda, que foi com Luiz Gonzaga, padrinho de casamento desse sanfoneiro cultuado por seu povo. A compositora e cantora Anastácia, lamentou a perda do amigo e falou das composições feitas em parceria. Ressalva-se que o músico sempre fez questão de dizer que aprendeu a compor com Anastácia. Não faltaram os versos da literatura de cordel, escrito pelo poeta pernambucano José Evangelista. Em Fortaleza, o poeta de Tauá, Paulo de Tarso, foi rápido, escreveu O ENCONTRO DE DOMINGUINHOS COM GONZAGÃO LÁ NO CÉU, com versos que descrevem a bagagem cultural desse que influenciou ao logo da carreira, gerações de músicos pelo Brasil.

“Era vinte e três de julho 
De dois mil e treze o ano
 Nosso mestre Dominguinhos 
Subiu ao Pai soberano 
Foi fazer festa no céu 
Longe de qualquer tirano.”

 “Grande nome da sanfona 
Dominguinhos foi valente 
No começo dessa noite 
Já deixou o céu contente 
Encontrou-se com Gonzaga 
Jesus estava presente.”   

    Do Rio de Janeiro recebi da poetisa Dalinha Catunda, cearense de Ipueiras, esta estrofe do cordel A PARTIDA DE DOMINGUINHOS: 

 Uma sanfona emudece 
Um sanfoneiro partiu. 
Quem Dominguinhos ouviu 
A sua voz não esquece.
O seu canto além de prece,
Foi encanto e louvação, 
Encantou serra e sertão
Quem de Lua foi herdeiro, 
Partiu nosso sanfoneiro 
Partindo meu coração.

   O  poeta Pardal Presidente do CECORDEL(Fortaleza), escreveu: 


Gonzagão um dia disse:
Um herdeiro eu vou deixar
Pois o fole da sanfona
Só ele sabe puxar
Dominguinhos, este o herdeiro,
Hoje no céu é o primeiro
Pra com seu mestre tocar. 25/07/2013

A poetisa Vânia Freitas(Fortaleza-CE), enfatizou: 

As lágrimas do teu povo
Vão rolar pelo forró.
A sanfona vai gemer
Com saudade do xodó
De Domingos, sanfoneiro,
Que alegrou o brasileiro
Com a força do seu gogó. 25/07/2013

No impulso da emoção, não poderia deixar passar em branco, a minha homenagem ao saudoso mestre do acordeon, através do cordel UM ADEUS AO HERDEIRO DE GONZAGÃO:

Estava ouvindo uma rádio
Que é rica de informação
Quando ouvi tocar um xote
E fizeram a narração
Como cortando caminhos
Disseram, aí, Dominguinhos
Para o céu fez ascensão.

Fui ouvir outra emissora
E essa sendo nordestina
Era feito um especial
No som de uma concertina
Chico Paes tocava forte
Pro sanfoneiro do norte
Uma homenagem que assina.

Concretizava a notícia
Tristonha naquele dia
Enlutando a nossa música
E um trono que se esvazia
Pela peculiaridade
De rica expressividade
Que a deusa musa extasia.

    Certamente uma “chuva” de cordel se espalha por todo o Nordeste. É a notícia em versos, decantado história e acontecimento, através da Literatura de Cordel, um informativo que permanece em evidência no Nordeste Brasileiro.

 *Poeta e graduado em História - Sábado(27),Guaipuan prestou  homenagem a Dominguinhos, na RÁDIO PITAGUARY - AM -1340 KHZ  http://radiopitaguaryam.com/

ACESSE  também:   http://www.cecordel.com.br/

CECORDEL 25 ANOS

sexta-feira, 21 de junho de 2013

BANCA NACIONAL MAIS UMA VEZ APREENDIDA (HÁ UM ANO)



 A CULTURA POPULAR PEDE SOCORRO

UM APELO AOS QUE VALORIZAM A CULTURA POPULAR


BANCA NACIONAL DO CORDEL MAIS UMA VEZ APREENDIDA
VAI FAZER UM ANO



            Esta é a BANCA NACIONAL DO CORDEL, um equipamento do Centro Cultural dos Cordelistas do Nordeste – CECORDEL.
O CECOEDEL é uma entidade cultural, fundada em agosto de 1987.  Há mais de 25 anos, nossa entidade produz, incentiva e luta por mais valorização da cultura popular expressa no cordel e no repente do cantador.
A entidade nasceu de um grupo e poetas que se reunia ao redor de uma banca no centro da antiga praça do Ferreira, em 1987. Quando a praça passou pela reforma, a Fundação Cultural de Fortaleza, que lá funcionava, não teve interesse para instalar um box de cordel, que ficaria sob a responsabilidade do Cecordel. Transferiram a banca para praça dos Voluntários, onde ficou até 1994, quando foi levada pelo caminhão da Emlurb.
            Tentamos junto à SER II, a legalização da banca e a sua volta mas nada foi feito.
      Fomos atrás da inciativa privada para o patrocínio de uma nova banca. Conseguimos a adesão da Fundação Demóçrito Rocha, que nos doou a banca. O poeta Barros Pinho (in memorian), então presidente da Fundação Cultural de Fortaleza, nos cedeu um espaço no Largo dos Correios, no centro. Inauguramos a Banca (v. Foto). Como o lugar se  tornou insuportável, devido o barulho, fumaça de churrasco, solicitamos à administração municipal para transferir para a praça vizinha – Valdemar Falcão. Isso em 2010. Ficou lá até julho de 2012. Mês em que foi apreendida pela SER- Centro. Dia 13/07/2012, Gerardo Frota (Pardal), presidente do Cecordel, protocolou nessa secretaria, solicitando a devolução da banca. O que foi atendido
Em 31/7/2012, foi dada entrada no protocolo, dessa mesma secretaria a solicitação do espaço para que a banca volte a funcionar, sendo procedida a sua regulamentação a fim de que não seja repetido este mesmo constrangimento. O protocolo desta solicitação está sob o n. 1707155938910/2012.
            Com este breve histórico, o Cecordel  está procurando alguma pessoa amiga, autoridade que seja sensível a esta causa a fim de que possa nos ajudar junto ao secretário da SER-Centro a reabilitar nossa Banca. A cidade de Fortaleza é quem ganha com a presença  da banca de cordel numa de suas  praças, mostrando com isso que valoriza a cultura do seu povo.


Gerardo Carvalho Frota (PARDAL)
         Presidente CECORDEL

domingo, 9 de junho de 2013

JUVENAL EVANGELISTA SANTOS
UM PROPAGANDISTA DO VERSO 


Por Guaipuan Vieira

 Até o final da década de 90, o poeta repentista Juvenal Evangelista Santos, vendia em Teresina, Piauí, em uma Kombi usada, cordéis e fitas de cantoria. A espécie de banca móvel, logo chamava à atenção da clientela, pelo som que saía de uma amplificadora instalada no teto do veículo. Mantinha-se no centro da cidade, na Praça Marechal Deodoro da Fonseca, mais conhecida como Praça da Bandeira, próximo do Mercado Central, da feira do troca-troca, ponto estratégico para aquele misto de propagandista e folheiro vender o cordel e manter a preservação desse gênero literário que resistia ao avanço da era moderna. Nas minhas visitas a Teresina, sempre conversava com o velho poeta. Em 1985 informou-me que vivia contra o tempo, mas resistindo aos grandes veículos de informação: “Sei que o cordel é ignorado por muitos. Quem ainda compra, pingando, é a velha geração. Precisa que alguém mais jovem e do ramo, faça algo em prol da nossa cultura, porque ela está agonizando”. De fato, pesquisadores já anunciavam sua morte.  O desabafo em forma de profecia vinha do experiente poeta paraibano e radicado na Verde Capital piauiense. 33 anos de profissão. Falou-me ainda, que tinha projetos para a publicação de um livro (coletânea de cordéis). Fez referência ao Festival de Violeiros de Teresina, evento cultural criado pelo professor Pedro Mendes Ribeiro, e que ganhava notoriedade em todo o Nordeste. Hoje, um expoente dessa arte no Brasil. Juvenal, mesmo sem perspectiva de melhoria de venda do cordel, resistia em manter essa literatura. Em contra-partida, a poesia de autores piauienses era estudada na Europa. A notícia fora veiculada nos jornais O Dia,  de 18/19 de
agosto e O Estado,  de 15 de agosto, ambos de 1985, que destacavam pesquisas de mestrado e doutorado dos franceses Charles Piriou e Andréa Ghighi, da Universidade de Paris, bem como da existência de trabalhos franceses sobre a Literatura de Cordel. Mas a literatura de bancada, exceto as exceções desses poetas, até a metade da década de 80, servia de simples peça de museu. De Juvenal Evangelista, destacamos os cordéis: O MÁRTIR GREGÓRIO, MARCHA DO MUNDO –UM CONSELHO PARA UMA NAÇÃO SER FELIZ, O PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA, FESTIVAL NO MARANHÃO, O FILHO QUE MATOU A MÃE (CABEÇA DE CUIA), O MÁRTIR DA NOVA REPÚBLICA (VIDA E MORTE DE TANCREDO), BATALHA DO JENIPAPO e COMETA DE HALLEY. O poeta mudou-se para Boa Vista-RR, e segundo seus familiares sentia-se feliz pelo renascimento da arte que tanto defendeu. Faleceu em 2000, naquele estado, deixando um rico acervo de cordel. Parte desse material está no arquivo do Cecordel
.

sábado, 8 de junho de 2013

      ADAGIÁRIO NO CORDEL 
HOMENAGEM A LEONARDO MOTA

















O folclore é arte, é vida
Conjunto das tradições,
Das crendices e das lendas,
De um país, suas gerações;
São adágios e provérbios,
O ninar e entre canções.

O folclore está presente
Em tudo que é popular,
Esse termo William Thoms
Em Londres fez registrar
Para os anais da história
De seu povo e seu lugar.

No Brasil, Leonardo Mota,
Com grande dedicação,
Percorreu o país inteiro
E fez toda anotação
Dos adágios brasileiros,
Registro em primeira mão.

Para o doutor folclorista
Eu presto minha homenagem,
Neste folheto de feira,
Que também é reportagem.
Já foi jornal do sertão
E preserva sua bagagem.

Pois vovó sempre falava,
Nesse doutor folclorista,
Que em certa ocasião
Foi-lhe fazer entrevista,
Em Currais no Piauí,
Na fazenda Boa vista.

As histórias bem contadas,
Na minha rima eu percorro,
Conforme vovó falava
Pra papai e mãe Socorro:
“Mais vale um cachorro amigo
Do que um amigo cachorro.”

Ela pitando o cachimbo,
Os adágios nos dizia:
“Cachorro que acua alma
Não é boa freguesia
É como mulher que trai
O marido à luz do dia.”

Pois dizia haver três coisas
Que não podem consertar:
“Cachorro que pega bode,
Mulher que passa a errar,
E o homem que é mentiroso
Não se deve confiar”.

E com sua linguagem farta
Da boa expressão popular,
Quando algo era mal feito,
Sempre tinha o que falar:
“O costume do cachimbo
Que faz a boca entortar”.

Há coisas que, nem agouro,
Dizia ela, que atormenta:
“É se ter um mal vizinho,
Que nem o diabo aguenta.
Uma casa com cupim,
Ou então mulher briguenta.”

E continuava a prosa
Com aquela sua perfeição:
“Dizia que há ciência
Pra pegar boi e ladrão:
Pelo chocalho do outro,
Sabe a sua posição.”

À noitinha ela rezava
Tendo o terço em sua mão,
Ao seu lado a filharada,
Juntos faziam o refrão,
Mas antes de nos benzer
Tinha uma forte oração

“Deus te livre de sezão,
Tosse braba ou catapora;
Do sarampo e coqueluche
Que o vento trás lá de fora
E da queda de espinhela,
Dor perversa que demora”.

“Deus te livre de caxumba,
Da sífilis nem pensar,
Barriga d’água ou gastrite,
Nó na tripa ou calazar;
Do maldito reumatismo
Que faz o cristão penar”.

Depois da reza dizia:
“Só assim Deus nos defende
Dos males que há na vida
Que, pelo mundo, se estende.
Dormimos pra acordar cedo,
Quem mais vive mais aprende”.

Quando o sol, por trás da serra,
Deslumbrava a linda aurora,
Acordava a filharada,
Dizendo já está na hora:
“Quem precisa é quem se estira,
Quem não quer é quem demora”


(Folheto com 8 Páginas,31 estrofes)
Autor: Guaipuan Vieira. Membro da Academia 
Brasileira de Literatura de Cordel - ABLC,
Cadeira número 19, Patrono: Leonardo Mota.
ACESSE:
http://www.cecordel.com.br/