SITE DO CECORDEL COMPÕE ACERVO
DA LIBRARY OF CONGRESS
O Site do Cecordel www.cecordel.com.br e blog compõem o
acervo da Biblioteca do Congresso Americano. Desde 1966, a Biblioteca do
Congresso vem adquirindo cordéis para o AMERICAN FOLKLIFE CENTER com um acervo
atual de quase 10.000 cordéis em papel. Segundo a FolklifeHoje é cada vez mais comum os cordelistas publicarem o cordel em
formato digital via websites e blogs, portanto, é importante que as bibliotecas
desenvolvam uma estratégia de arquivamento desse valioso material.
“A colaboração neste projeto é
possível, em parte, devido à presença do escritório da Biblioteca do
Congresso Americano no Rio de Janeiro. Desde 1962, a Biblioteca do
Congresso mantém escritórios no exterior para coletar, catalogar, preservar e
distribuir publicações e materiais de pesquisa de países onde esses materiais
não são disponibilizados através de métodos convencionais de aquisição. O grupo
de consultoria Brazil Cordel Literature Online (BCLO) é responsável pela
escolha de sites para incluir no arquivamento. A Biblioteca do Congresso está
em parceria com as seguintes instituições no Brasil e nos EUA para determinar
os melhores sites para inclusão neste projeto: Centro Nacional de Folclore e
Cultura Popular (CNFCP); Fundação Casa de Rui Barbosa; Universidade Estadual da
Paraíba; Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo;
Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ); Universidade do Novo México, Universidade de
Wisconsin e Ibero- Amerikanisches Institut.”
“Nossos arquivos de web são importantes
porque contribuem para o registro histórico, capturando informações que
poderiam ser perdidas. Com o crescente papel da Web como um meio influente,
registros de acontecimentos históricos podem ser considerados incompletos sem
os materiais que foram originados digitalmente e nunca impressos em papel. Para mais
informações sobre essas coleções de arquivos da web na Biblioteca do Congresso
Americano, visite nosso website (http://www.loc.gov/webarchiving/).
Este é o segundo arquivamento de sites coletados no Brasil pelo escritório da
LC no Rio de Janeiro em colaboração com instituições brasileiras. Em 2010, 46
sites relacionados à eleição presidencial brasileira foram arquivados. Esta
coleção está sendo processada e esperamos que esteja disponível on-line em um
futuro próximo.”
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
OCentro Cultural dos Cordelistas-CECORDEL realizava em 1988 a 2º Exposição de Literatura de Cordel e de Xilogravura. A exposição perdurou por 6 anos em Galerias de Artes em Fortaleza. A iniciativa do poeta e escritor Guaipuan Veira, à frente de um grupo de anônimos cordelistas, fez renascer essa literatura em todo o Nordeste brasileiro. Participaram dessa Exposição, os poetas: Joaquim Batista de Sena, Jotamaro, Otávio Menezes, Gerardo Carvalho(Pardal), José Maria de Freitas, Guaipuan Vieira, Costa Sena, José Caetano da Silva(repentista), José Ferreira Neres, Afonso Nunes Vieira, Zé Limeira de Fortaleza, Antonio Jocélio e Horácio Custódio(repentistas). Homero Alves da Silva, Vera Maria Oliveira, Maria Luciene, Ana Jucá, Maria Felicidade, Vescêncio Fernandes, Dimas Mateus (Repentista) Zé Calixto, Marreco, Zizi Gavião (emboladores de coco). Poetas que cantam e decantam o cotidiano do povo brasileiro, especificamente o Nordeste, um território que sofre as secas dolorosas, que fazem famílias migrarem para outras regiões do país, em busca de sobrevivência e protegidos pelo Deus dará. O cordel continuará porta-voz da gesta nordestina.
Acervo: Cecordel( proibido reprodução sem citação dos créditos)
Hoje, 23 de setembro de 2013, registramos a data de
nascimento de uma das maiores expressões da poesia popular piauiense, Hermes
Vieira. Poeta, indianista e folclorista.(foto:Maio/2000) Nascido em 1911, em Elesbão Veloso,
município da cidade de Valença, Piauí. Filho de Raimundo Rodrigues Cardoso
Vieira e de Joaquina de Sousa Viana, pequeno latifundiário, que tangido pelas
secas periódicas deixara a lavoura e sobrevivera curtindo pele de animal de
criação. Naquela época a família residia no distrito de Palmeirais. Hermes aos
oito anos de idade, a exemplo dos irmãos mais velhos, ajudava o pai. Somente
aos treze anos foi matriculado numa Escola em Cajueiro, distrito daquela
região. O trajeto de doze quilômetros era feito de segunda a sexta-feira,
a lombo de burro ou a pé. Uma de suas
virtudes era admirada por sua professora, Rosa Lima, pois
aquele menino pobre aproveitava o recreio para fazer
o dever de casa, como predestinado pelo destino.
Haja vista que a família sem recursos financeiros, não teve mais condição de
pagar seus estudos. Mas os seis meses de escola foram
suficientespara que aprendesse a ler e escrever. Soube aproveitar as instâncias da vida, tornando-se um autodidata e poeta possuidor de uma poética com estilo
próprio. HOJE SE VIVO FOSSE ESTARIA COMPLETANDO 102 ANOS DE VIDA.
Saudemos este imortal poeta com seu poema O ANALFABETO extraído
de seu livro NORDESTE. Um clássico da
literatura popular:
Foto: Raimundo Rosa(Cazé), década de 80
O ANALFABETO
Meu patrão, rãincê tá vendo
Este pé de jatobá
E esses resto de parede
Dendro desses bamburá?
Apois foi nessa tapera,
Amarrado neste pau,
Qui mataro, já fáiz ano,
O caboco Niculau.
Isto aqui já foi fazenda
Dum preverso Zé Ribêro,
E prevesso tombém era
Chico Neto, seu vaquêro.
Esse causo foi assim,
Vou conta p’u coroné,
Qué p’a mode rãincê vê
Cum’as coisa do mund’é.
Um subrim de Zé Ribêro,
Um xujeito tombém mau,
Deu de taca, sem mutivo,
Num rimão de Niculau.
Niculau, sabendo disso,
Um manguá meteu na mão
E vingou, no mêrmo dia,
A disfeita do rimão.
No momento inda fizêro
Uma gruía com o rapáiz
Mais, dispois isfriou tudo,
E fizéro novas páiz.
Mais, um dia, Niculau
Pricisou de viajá
P’a fazenda “Vaca Morta”
Ponde vamos nóis passa.
Quando sobe da nutiça,
Esse tá de Zé Ribêro
Pidiu ele qui levasse
Um biête p’u vaquêro.
Niculau pegou o biête
E siguiu no seu camim;
Era um dia de verão,
Num dumingo bem cedim.
Quando o dia foi morrendo;
Niculau aqui chegou
E o biête qui trazia
Ao vaquêro ele intregou.
Esse, antão,cum cara santa
De quem tem bom coração,
Féiz o pobe do rapáiz
Tira a sela do alazão.
E dispois ele fêiz tudo
Pra seu hóspe s’inludi:
Lhi deu ceia cum fartura
E uma rede p’a drumi.
Mais porém quando drumia
Sono carmo d’inucente,
Chico Neto cum dois caba
Lhi pegáro de repente.
E na luiz de uma foguêra,
Amarrado neste pau,
Chico Neto, carmamente,
Foi matando Niculau.
Cum siá faca bem molada,
Esse mau, sem coração,
Arrancou do pobe o zói
E adispois cortou siás mão.
E do corpo da rapáiz
Foi seu sãingue s’isgotando,
E o marvado ria dele
Desse jeito s’cabando.
Adispois lhe preguntou,
Todo cheio de prazê:
-Niculau, você já sabe
O pur quê qui vai morre?
Niculau, nesse momento,
Cuma ponta de arfinete,
Biservô batê na mente
A lembrança do biête.
Mêrmo assim já quaje morto,
Cum seu corpo insãinguentado,
Niculau, cum vóiz baxinha,
Respondeu p’u disgraçado:
-O mutivo d’eu morre...
Eu bem sei...seu Chico Neto
Tá disgraça...só si deu...
Pruqu’eu sou...anafabeto...
Cuma é triste, coroné,
Um cristão assim morre
S’intregando ao assassino,
Pruque não sabia lê!!
terça-feira, 3 de setembro de 2013
UM SANFONEIRO CEARENSE E LUIZ GONZAGA
Por Guaipuan Vieira*
Era sexta-feira, 15 de março de 1991, o forrozão da Rádio Pitaguary“acordava” a população da grande Maracanaú e adjacências. Bate-papo com o ouvinte, informações chegadas dos principais jornais da capital alencarina, aviso do horário de trens de passageiros vindos das linhas sul e norte a Fortaleza. O efeito sonoplástico da locomotiva em movimentação e buzinando, chamava a atenção do ouvinte. Outros efeitos discorriam na programação: galo cantando, vaca berrando, cachorro latindo e cancela rangendo. Era o sertão transcrito nas ondas do rádio, das 5h às 8h, de segunda a sexta-feira.
Entre o bate-papo com o ouvinte no ar, um telefonema soava com o refrão de falar na linha interna. Era do músico Careca da Sanfona, que me fazia um convite para uma feijoada na sua residência ao som de forró pé-de-serra. Ele era ouvinte assíduo. Silente ao longo dos anos vinha acompanhando aquela programação, a exemplo de muitos outros que se mantinham ocultos.( Foto:Careca recebendo troféu de 1º lugar, do então prefeito de Maranguape, Raimundo Gomes de Matos e do representante da Pepsi Cola, em Fortaleza).
Sábado às 10h, eu chegava à residência daquele sanfoneiro, no bairro Montese, em Fortaleza. Não precisei apertar a campainha, o portão estava aberto, com entre e sai de músicos e convidados. Logo avistei um senhor de estatura média, cor branca, forte e careca, tocando uma sanfona de 80 baixos, com um regional. Ao meu encontro veio uma senhora de estatura mediana, cor branca, esbelta e educada. Ao saudar-lhe com meu bom dia, e identificar-me, ela sorriu e exclamou: “o Raimundo achava que o senhor não viria, seja bem vindo!” Era sua esposa, dona Zélia, que não lhe chamava pelo pseudônimo. Subitamente foi até ao marido e cochichou-lhe ao seu ouvido. Careca na simplicidade de nordestino, como se me conhecesse pessoalmente há anos, cumprimentou-me ao som da sanfona e apresentou-me aos convidados. Em seguida tocou um choro e um forró, todos de sua autoria. Com isto, fez uma parada para um outro sanfoneiro tocar. Saiu a passos lentos prosando com um e com outros. Sentou-se ao meu lado e puxamos um fio de prosa. Nisso dona Zélia nos chamou para saborear a feijoada. Ao término, careca levantou-se, foi até um mostruário, pegou um chapéu de couro, alguns recortes de jornais, voltou à mesa e começou a narrar histórias de suas apresentações pelo Brasil. Naquele momento descobria que estava diante de um personagem que escrevera algumas páginas da história do forró pé-de-serra, no Nordeste, especialmente no Ceará. Esse sanfoneiro, ao longo da carreira artística teve uma a agenda lotada, tocava para turistas europeus, sobre contrato de hoteleiros da orla marítima. Nas festas juninas, no começo do ano já estava contratado para tocar em grandes eventos em Fortaleza e em outros Estados do Nordeste.
Na década de 80 viajou para o sul do país, onde se apresentou no programa Som Brasil, na TV Globo, apresentado por Lima Duarte, que substituía Rolando Boldrin. Foi um sucesso marcante na vida dele. Careca tinha todo o repertório de Luiz Gonzaga, imitava o Rei do Baião, que por circunstancia do destino, em 1962, numa casa comercial na rua Guilherme Rocha, em Fortaleza, sem sabumbeiro e aflito para gravar um comercial para a TV, saíra às pressas em busca desse tipo de músico, quando de súbito fora surpreendido com uma voz nordestina que bradava forte: “QUÉ QUI HÁ CARECA?!” Era Luiz Gonzaga. Naquele instante, o mesmo explicou-lhe o vexame que passava. Luiz, humildemente, sem marcar distância, perguntou-lhe: “você tem o zabumba?” Ele meio acanhado, confirmara que sim, e Luiz concluiu: “então vamos tocar!”
Por alguns minutos o REI DO BAIÃO fora zabumbeiro desse cearense da lagoa de Juvenal, Maranguape. Após a gravação do comercial, recebia do Rei, um chapéu de couro - este que estou usando na foto-, como recordação daquele encontro. Foi o maior prêmio que um artista como ele poderia ter recebido. Um troféu inesquecível que passou a usar em suas apresentações. (Foto: Luis Gongaza tocando zabumba)
Nos Festivais de Sanfoneiros, que perdurou os anos de 1991 a 1993, na cidade de Maranguape, sobre o auspicio da prefeitura daquele município. Projeto idealizado por mim, com apoio da Rádio Pitaguary, aquele artista sempre conquistava o primeiro e segundo lugar. Ressalva-se que a comissão julgadora era formada de músicos conceituados, desses, representantes do Conservatório Alberto Nepomuceno e da Ordem dos Músicos do Brasil, secção do Ceará e de compositores e intérpretes cearenses, com Dílson Pinheiro e Carlos Castelo. Tornei-me o apresentador daquele evento que conquistou público de toda região metropolitana. Oportunidade em que conheci Carlos André, Sirano, e tantos outros artistas que ali alegraram a grande multidão, antes da apresentação do festival tão esperado por aquela gente que tomava a Praça Capistrano de Abreu, localizada, no “coração” de Maranguape.(Foto: Este chapéu que estou usando, Careca recebeu do Rei do Baião).
Careca nasceu na Lagoa de Juvenal, Maranguape, em 28/08/1928. Seu pai era músico, tocava violão e rabeca. A exemplo de muitos sanfoneiros começou a tocar com sete anos de idade. A experiência primeira foi no violão, posteriormente começou a tocar sanfona, não mais deixou o oficio. Não gravou nenhum disco, em contra partida, na década de 90 gravou algumas composições suas, no estúdio da Rádio Pitaguary, posteriormenteo radialista Rômulo, da FM Universitária, também gravou parte do repertório deCareca.Até junho de 1998 tocou com sucesso em grandes eventos. Ainda naquele ano, submetera-se às pressas a uma cirurgia que lhe deixara abalado fisicamente. Mas atendera meu convite para se apresentar no Auditório do Sesi, em Fortaleza, quando no lançamento do canal da TV FUTURA, parceira desse órgão Social da Indústria doCeará.Sua última apresentação em público. No inicio de dezembro de 1999, foi internado às pressas com complicações de saúde, vindo a falecer no dia 17 de dezembro daquele ano. Homenagens lhe foram prestadas pelos sanfoneiros Clementino Moura, Rodolfo Forte, dentre outros músicos admiradores daquele velho tocador.
*Em 1990 saía da Ceará Rádio Clube e ingressava na também dileta equipe da Rádio Pitaguary, em Maracanaú-Ce, região metropolitana de Fortaleza, emissora do empresário Roberto Pessoa, hoje político conceituado no certame cearense. Apresentava de 6h às 8h, o programa Canto Sertanejo, forró pé-de-serra, intercalado de notícias e entrevistas. Aos domingos de 10 às 12h, o programa Rancho Alegre, um encontro com sanfoneiros e artistas da terra. Em 1992 passou a apresentar também o programa A Noite é Nossa de 21h às 00h, musical eclético, bate papo com o ouvinte e a notícia. Continua apresentando o programa Canto Sertanejo.
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
PROFESSORA UNIVERSITÁRIA
LANÇA LIVRO SOBRE CORDEL
AEditora Apprisacaba de lançar uma excelente obra sobre a literatura de cordel. Trata-se da tese de doutorado em Letras, da professora Maria Elizabeth Carneiro de Albuquerque (Beth Baltar), da Universidade Federal da Paraíba. O trabalho foi fruto de experiência com docentes do Departamento de Ciência da Informação daquela universidade. O conceito utilizado foi a semântica discursiva como metodologia para indexar folhetos de cordel. Segundo a professora, “esta metodologia garante que um mesmo sistema ou sistemas afins, usem conceitos para representar documentos semelhantes, o que irá facilitar a comunicação entre o indexador, o usuário e o sistema com a utilização de um mesmo vocabulário”. A obra já está à venda no site da Editora:http://www.editoraappris.com.br
Através do Facebook da
Casa do Cantador, recebemos a notícia do falecimento do poeta repentistaAntônio Barbosa Sobrinho (TOTA),
ocorridono dia 25 de julho de 2013, em Fortaleza,
Ceará. Era filiado a Associação dos Cantadores do Nordeste -ACN, que tem sede
no bairro do Carlito Pamplona, em Fortaleza. Segundo o presidente daquela casa
cultural, poeta Dimas Mateus, seu sepultamento ocorreu através da ACN, com
apoio de poetas filiados, devido à família não possuir recursos financeiros. E
acrescentou: “O som de sua viola continuará gravado em alguns meios, dentre
eles no coração da arte popular nordestina”.
O poeta Guaipuan Vieira, surpreso com a morte do amigo,
escreveu:
O ASSOMBROSO CASO DO RAPAZ QUE SE APAIXONOU POR UMA FALECIDA e A FILHA DO PATRÃO, são dois cordéis de autoria do poeta Helder Campos, de Palmácia, Região do Maciço de Baturité, Ceará. O poeta descreve a temática típica da Literatura de cordel. Estrofes do Assombroso caso do rapaz...
No ano de trinta e quatro
Fortaleza era a cidade
E Parangaba o distrito
Aconteceu de verdade
Um romance pavoroso
Mas de grande intensidade.
Um rapaz de nome Alberto
Conheceu uma donzela
Muito Bela por sinal
Que tinha o nome de Estela
Lá toda noite ele ia
Para namorar com ele.
Se encontravam numa praça
Que naquele bairro havia
Alberto se apaixonou
E isso nunca acontecia
Passava o dia a pensar
Dela jamais se esquecia.
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Estrofes de A filha do patrão:
Numa pequena cidade
Do sertão do nosso Estado
Aconteceu um romance
Algo muito comentado
Por quem viveu nesse tempo
Pois foi muito divulgado.
Um rapaz de nome Heleno
Pobre, porém muito honrado
Conheceu um linda moça
Foi o seu maior pecado
Já que esse envolvimento
Trouxe muito desagrado.
O nome dela era Alzira
Nobre e formosa donzela
Nunca antes na região
Viveu mulher como aquela
Dona de rara beleza
Era uma uma linda gazela.
Cordéis com 8 páginas,31 estrofes. Edições de 22 de junho de 2013. Apoio cultural do CECORDEL.
Em 1992 Dominguinhos esteve em Fortaleza-CE, cumprindo agenda de shows. Foi a oportunidade que tive de conhecê-lo pessoalmente e entrevistá-lo para a Rádio Pitaguary, programa Canto Sertanejo, apresentado por mim. Testemunhei a simplicidade, humildade daquele músico, decantado pela grande mídia, tido como herdeiro do trono musical de Luiz Gonzaga. Mostrou-se preocupado com o sanfoneiro nordestino, observando que muitos abandonavam a profissão por não viverem da arte. Falou do surgimento de novos ritmos, esclarecendo que o forró se mantém por ser uma cultura nordestina que encanta a todos, mas que o sanfoneiro não fica imune de aprimorar cada vez mais os seus conhecimentos.
VIDA & CARREIRA
José Domingos de Moraes, Neném, ou seja, Dominguinhos, nome batizado por Luiz Gonzaga, por achar que não seria um bom nome artístico, nasceu em 1941 na cidade de Garanhuns-PE. Seu pai, o mestre Chicão, era sanfoneiro e afinador de fole, famoso naquela região. Dominguinhos aos 6 anos expressou o dom da música, tocando pandeiro. Aos 8 anos, com os irmãos Moraes, na sanfona e Valdomiro, na zabumba, formou o trio OS TRÊS PINGUINS, e passaram a tocar em feiras e hotéis na capital pernambucana. Em 1948, em uma de suas apresentações, no Hotel Tavares Correia, conheceu Luiz Gonzaga, que ficou impressionado ao vê-lo dominar bem aquele instrumento de sopro (acordeon). Luiz lhe deu dinheiro e seu endereço no Rio de Janeiro, expressando naquele gesto de nordestino irmão, que podia contar com seu apoio. Luiz era possuidor dessa grande qualidade humana. Dominguinhos vocacionado pela música, em 1950 começa a tocar sanfona de oito baixos, e inspirado no irmão mais velho, em 1952, passa a tocar acordeon. Mas a difícil vida no Nordeste sempre migrou muitos nordestinos para o sul do país, em busca de um uma vida melhor. Com Dominguinhos não foi diferente. Em 1954 segue com o pai e seus irmãos para o Rio de Janeiro, levando no bornal de esperança o endereço de Luiz Gonzaga. Tudo foi transcorrendo aos passos do destino. Seu pai, Chicão, recebeu de Luiz uma sanfona. Dominguinhos aos pouco foi se familiarizando com o novo mundo, sem deixar de visitar a casa de Luiz Gonzaga. No cenário artístico foi conhecendo grandes nomes da música nordestina, como Marinez, Zito Borborema e o Zabumbeiro Miudinho. Com os dois últimos chegou a criar o Trio Nordestino, e passou a tocar em circos e em arrasta-pés em alguns municípios daquele estado. Em 1964, gravou o primeiro disco FIM DE FESTA, pelo selo Cantagalo. Para alguns críticos da música, este disco descrevia sua identidade artística, ganhando notoriedade na arte. Em 1972, passou a ter nova experiência com outros estilos musicais, quando participa do show Índia, de Gal Costa, e Refazenda, de Gilberto Gil. Entre outros shows feitos a convite de diversos artistas da música popular brasileira, com Caetano Veloso, Chico Buarque, Sivuca, enfim, um artista reverenciado por todos.
MORTE
A notícia da morte do exímio sanfoneiro, cantor e compositor, não pegou a população brasileira de surpresa, o músico há seis anos se tratava de um câncer no pulmão. Em 17 de dezembro de 2012, teve complicações, e foi internado às pressas na Unidade de Terapia Intensiva Coronariana do Hospital Santa Joana, no Recife. Em 13 de janeiro de 2013, a pedido da família, segundo a ex-mulher de Dominguinhos, a cantora e compositora Guadalupe Mendonça, foi transferido para o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, permanecendo até o seu falecimento que transcorreu dia 23 de julho deste ano, aos 72 anos, deixando uma rica bagagem cultural e a conquista do prêmio Grammy Latino, em 2012.
HOMENAGEADO POR ARTISTAS
Nos últimos dias venho acompanhando via parabólica, a programação da TV Nordeste, no Recife. Ontem (24), transmitiram cenas de homenagens a Dominguinhos, feita por diversos músicos no Festival de Inverno, realizado na Veneza brasileira. A TV foi às ruas da grande cidade e ouviu o povo cantar os sucessos do ilustre filho pernambucano. Entrevistou Genival Lacerda, que foi com Luiz Gonzaga, padrinho de casamento desse sanfoneiro cultuado por seu povo. A compositora e cantora Anastácia, lamentou a perda do amigo e falou das composições feitas em parceria. Ressalva-se que o músico sempre fez questão de dizer que aprendeu a compor com Anastácia. Não faltaram os versos da literatura de cordel, escrito pelo poeta pernambucano José Evangelista. Em Fortaleza, o poeta de Tauá, Paulo de Tarso, foi rápido, escreveu O ENCONTRO DE DOMINGUINHOS COM GONZAGÃO LÁ NO CÉU, com versos que descrevem a bagagem cultural desse que influenciou ao logo da carreira, gerações de músicos pelo Brasil.
“Era vinte e três de julho De dois mil e treze o ano Nosso mestre Dominguinhos Subiu ao Pai soberano Foi fazer festa no céu Longe de qualquer tirano.” “Grande nome da sanfona Dominguinhos foi valente No começo dessa noite Já deixou o céu contente Encontrou-se com Gonzaga Jesus estava presente.”
Do Rio de Janeiro recebi da poetisa Dalinha Catunda, cearense de Ipueiras, esta estrofe do cordel A PARTIDA DE DOMINGUINHOS: Uma sanfona emudece Um sanfoneiro partiu. Quem Dominguinhos ouviu A sua voz não esquece. O seu canto além de prece, Foi encanto e louvação, Encantou serra e sertão Quem de Lua foi herdeiro, Partiu nosso sanfoneiro Partindo meu coração.
O poeta Pardal Presidente do CECORDEL(Fortaleza), escreveu:
Gonzagão um dia disse: Um herdeiro eu vou deixar
Pois o fole da sanfona
Só ele sabe puxar
Dominguinhos, este o herdeiro,
Hoje no céu é o primeiro
Pra com seu mestre tocar. 25/07/2013
A poetisa Vânia Freitas(Fortaleza-CE), enfatizou:
As lágrimas do teu povo Vão rolar pelo forró.
A sanfona vai gemer
Com saudade do xodó
De Domingos, sanfoneiro,
Que alegrou o brasileiro
Com a força do seu gogó. 25/07/2013
No impulso da emoção, não poderia deixar passar em branco, a minha homenagem ao saudoso mestre do acordeon, através do cordelUM ADEUS AO HERDEIRO DE GONZAGÃO:
Estava ouvindo uma rádio
Que é rica de informação
Quando ouvi tocar um xote
E fizeram a narração
Como cortando caminhos
Disseram, aí, Dominguinhos
Para o céu fez ascensão.
Fui ouvir outra emissora
E essa sendo nordestina
Era feito um especial
No som de uma concertina
Chico Paes tocava forte
Pro sanfoneiro do norte
Uma homenagem que assina.
Concretizava a notícia
Tristonha naquele dia
Enlutando a nossa música
E um trono que se esvazia
Pelapeculiaridade
De rica expressividade
Que a deusamusaextasia.
Certamente uma “chuva” de cordel se espalha por todo o Nordeste. É a notícia em versos, decantado história e acontecimento, através da Literatura de Cordel, um informativo que permanece em evidência no Nordeste Brasileiro. *Poeta e graduado em História - Sábado(27),Guaipuan prestou homenagem a Dominguinhos, na RÁDIO PITAGUARY - AM -1340 KHZ http://radiopitaguaryam.com/ ACESSE também: http://www.cecordel.com.br/ CECORDEL 25 ANOS
Esta é a BANCA NACIONAL DO CORDEL,
um equipamento do Centro Cultural dos Cordelistas do Nordeste – CECORDEL.
O
CECOEDEL é uma entidade cultural, fundada em agosto de 1987. Há mais de 25 anos, nossa entidade produz,
incentiva e luta por mais valorização da cultura popular expressa no cordel e
no repente do cantador.
A
entidade nasceu de um grupo e poetas que se reunia ao redor de uma banca no
centro da antiga praça do Ferreira, em 1987. Quando a praça passou pela
reforma, a Fundação Cultural de Fortaleza, que lá funcionava, não teve
interesse para instalar um box de cordel, que ficaria sob a responsabilidade do
Cecordel. Transferiram a banca para praça dos Voluntários, onde ficouaté 1994, quando foi levada pelo
caminhão da Emlurb.
Tentamos
junto à SER II, a legalização da banca e a sua volta mas nada foi feito.
Fomos atrás da inciativa privada
para o patrocínio de uma nova banca. Conseguimos a adesão da Fundação Demóçrito
Rocha, que nos doou a banca. O poeta Barros Pinho (in memorian), então
presidente da Fundação Cultural de Fortaleza, nos cedeu um espaço no Largo dos
Correios, no centro. Inauguramos a Banca (v. Foto). Como o lugar se tornou insuportável, devido o barulho, fumaça
de churrasco, solicitamos à administração municipal para transferir para a
praça vizinha – Valdemar Falcão. Isso em 2010. Ficou lá até julho de 2012. Mês
em que foi apreendida pela SER- Centro. Dia 13/07/2012, Gerardo Frota (Pardal),
presidente do Cecordel, protocolou nessa secretaria, solicitando a devolução da
banca. O que foi atendido
Em
31/7/2012, foi dada entrada no protocolo, dessa mesma secretaria a solicitação
do espaço para que a banca volte a funcionar, sendo procedida a sua
regulamentação a fim de que não seja repetido este mesmo constrangimento. O
protocolo desta solicitação está sob o n. 1707155938910/2012.
Com este breve histórico, o
Cecordel está procurando alguma pessoa
amiga, autoridade que seja sensível a esta causa a fim de que possa nos ajudar
junto ao secretário da SER-Centro a reabilitar nossa Banca. A cidade de
Fortaleza é quem ganha com a presença da
banca de cordel numa de suas praças,
mostrando com isso que valoriza a cultura do seu povo.
Gerardo
Carvalho Frota (PARDAL)
Presidente CECORDEL
domingo, 9 de junho de 2013
JUVENAL EVANGELISTA SANTOS UM PROPAGANDISTA DO VERSO
Por Guaipuan Vieira
Até o final da década de 90, o poeta repentista Juvenal Evangelista
Santos, vendia em Teresina, Piauí, em uma Kombi usada, cordéis e fitas de cantoria. A
espécie de banca móvel, logo chamava à atenção da clientela, pelo som que saía
de uma amplificadora instalada no teto do veículo. Mantinha-se no centro da
cidade, na Praça Marechal Deodoro da Fonseca, mais conhecida como Praça da
Bandeira, próximo do Mercado Central, da feira do troca-troca, ponto
estratégico para aquele misto de propagandista e folheiro vender o cordel e
manter a preservação desse gênero literário que resistia ao avanço da era
moderna. Nas minhas visitas a Teresina, sempre conversava com o velho poeta. Em
1985 informou-me que vivia contra o tempo, mas resistindo aos grandes veículos
de informação: “Sei que o cordel é ignorado por muitos. Quem ainda
compra, pingando, é a velha geração. Precisa que alguém mais jovem e do ramo, faça algo em prol da nossa
cultura, porque ela está agonizando”. De fato, pesquisadores já
anunciavam sua morte. O desabafo em
forma de profecia vinha do experiente poeta paraibano e radicado na Verde
Capital piauiense. 33 anos de profissão. Falou-me ainda, que tinha projetos para
a publicação de um livro (coletânea de cordéis). Fez referência ao Festival de
Violeiros de Teresina, evento cultural criado pelo professor Pedro Mendes
Ribeiro, e que ganhava notoriedade em todo o Nordeste. Hoje, um expoente dessa
arte no Brasil. Juvenal, mesmo sem perspectiva de melhoria de venda do cordel,
resistia em manter essa literatura. Em contra-partida, a poesia de autores
piauiensesera estudada na Europa. A notícia fora veiculada nosjornaisO Dia, de 18/19 de
agosto eO Estado, de 15 de agosto, ambos de 1985, que destacavam
pesquisas de mestrado e doutorado dos franceses Charles Piriou e Andréa Ghighi,
da Universidade de Paris, bem como da existência de trabalhos franceses sobre a
Literatura de Cordel. Mas a literatura de bancada, exceto as exceções desses
poetas, até a metade da década de 80,
servia de simples peça de museu. De Juvenal Evangelista, destacamos os cordéis:
O MÁRTIR GREGÓRIO, MARCHA DO MUNDO –UM CONSELHO PARA UMA NAÇÃO SER FELIZ, O
PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA, FESTIVAL NO MARANHÃO, O FILHO QUE MATOU A MÃE
(CABEÇA DE CUIA), O MÁRTIR DA NOVA REPÚBLICA (VIDA E MORTE DE TANCREDO),
BATALHA DO JENIPAPO e COMETA DE HALLEY. O poeta mudou-se para Boa Vista-RR, e
segundo seus familiares sentia-se feliz pelo renascimento da arte que tanto
defendeu. Faleceu em 2000, naquele estado, deixando um rico acervo de cordel.
Parte desse material está no arquivo do Cecordel
E preserva sua bagagem. Pois vovó sempre falava, Nesse doutor folclorista, Que em certa ocasião Foi-lhe fazer entrevista, Em Currais no Piauí, Na fazenda Boa vista.
As histórias bem contadas,
Na minha rima eu percorro,
Conforme vovó falava
Pra papai e mãe Socorro:
“Mais vale um cachorro amigo
Do que um amigo cachorro.”
Ela pitando o cachimbo,
Os adágios nos dizia:
“Cachorro que acua alma
Não é boa freguesia
É como mulher que trai
O marido à luz do dia.”
Pois dizia haver três coisas
Que não podem consertar:
“Cachorro que pega bode,
Mulher que passa a errar,
E o homem que é mentiroso
Não se deve confiar”.
E com sua linguagem farta
Da boa expressão popular,
Quando algo era mal feito,
Sempre tinha o que falar:
“O costume do cachimbo
Que faz a boca entortar”.
Há coisas que, nem agouro,
Dizia ela, que atormenta:
“É se ter um mal vizinho,
Que nem o diabo aguenta.
Uma casa com cupim,
Ou então mulher briguenta.” E continuava a prosa Com aquela sua perfeição: “Dizia que há ciência Pra pegar boi e ladrão: Pelo chocalho do outro, Sabe a sua posição.” À noitinha ela rezava Tendo o terço em sua mão, Ao seu lado a filharada, Juntos faziam o refrão, Mas antes de nos benzer
Tinha uma forte oração
“Deus te livre de sezão,
Tosse braba ou catapora;
Do sarampo e coqueluche
Que o vento trás lá de fora
E da queda de espinhela,
Dor perversa que demora”.
“Deus te livre de caxumba,
Da sífilis nem pensar,
Barriga d’água ou gastrite,
Nó na tripa ou calazar;
Do maldito reumatismo
Que faz o cristão penar”.
Depois da reza dizia:
“Só assim Deus nos defende
Dos males que há na vida
Que, pelo mundo, se estende.
Dormimos pra acordar cedo,
Quem mais vive mais aprende”.
Quando o sol, por trás da serra,
Deslumbrava a linda aurora,
Acordava a filharada,
Dizendo já está na hora:
“Quem precisa é quem se estira,
Quem não quer é quem demora”
(Folheto com 8 Páginas,31 estrofes)
Autor:Guaipuan Vieira. Membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel - ABLC,
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