MORRE O HERDEIRO DE LUIZ GONZAGA
Por Guaipuan Vieira*
Em 1992 Dominguinhos esteve em Fortaleza-CE, cumprindo agenda de shows. Foi a oportunidade que tive de conhecê-lo pessoalmente e entrevistá-lo para a Rádio Pitaguary, programa Canto Sertanejo, apresentado por mim. Testemunhei a simplicidade, humildade daquele músico, decantado pela grande mídia, tido como herdeiro do trono musical de Luiz Gonzaga. Mostrou-se preocupado com o sanfoneiro nordestino, observando que muitos abandonavam a profissão por não viverem da arte. Falou do surgimento de novos ritmos, esclarecendo que o forró se mantém por ser uma cultura nordestina que encanta a todos, mas que o sanfoneiro não fica imune de aprimorar cada vez mais os seus conhecimentos.
VIDA & CARREIRA
José Domingos de Moraes, Neném, ou seja, Dominguinhos, nome batizado por Luiz Gonzaga, por achar que não seria um bom nome artístico, nasceu em 1941 na cidade de Garanhuns-PE. Seu pai, o mestre Chicão, era sanfoneiro e afinador de fole, famoso naquela região. Dominguinhos aos 6 anos expressou o dom da música, tocando pandeiro. Aos 8 anos, com os irmãos Moraes, na sanfona e Valdomiro, na zabumba, formou o trio OS TRÊS PINGUINS, e passaram a tocar em feiras e hotéis na capital pernambucana. Em 1948, em uma de suas apresentações, no Hotel Tavares Correia, conheceu Luiz Gonzaga, que ficou impressionado ao vê-lo dominar bem aquele instrumento de sopro (acordeon). Luiz lhe deu dinheiro e seu endereço no Rio de Janeiro, expressando naquele gesto de nordestino irmão, que podia contar com seu apoio. Luiz era possuidor dessa grande qualidade humana. Dominguinhos vocacionado pela música, em 1950 começa a tocar sanfona de oito baixos, e inspirado no irmão mais velho, em 1952, passa a tocar acordeon. Mas a difícil vida no Nordeste sempre migrou muitos nordestinos para o sul do país, em busca de um uma vida melhor. Com Dominguinhos não foi diferente. Em 1954 segue com o pai e seus irmãos para o Rio de Janeiro, levando no bornal de esperança o endereço de Luiz Gonzaga. Tudo foi transcorrendo aos passos do destino. Seu pai, Chicão, recebeu de Luiz uma sanfona. Dominguinhos aos pouco foi se familiarizando com o novo mundo, sem deixar de visitar a casa de Luiz Gonzaga. No cenário artístico foi conhecendo grandes nomes da música nordestina, como Marinez, Zito Borborema e o Zabumbeiro Miudinho. Com os dois últimos chegou a criar o Trio Nordestino, e passou a tocar em circos e em arrasta-pés em alguns municípios daquele estado. Em 1964, gravou o primeiro disco FIM DE FESTA, pelo selo Cantagalo. Para alguns críticos da música, este disco descrevia sua identidade artística, ganhando notoriedade na arte. Em 1972, passou a ter nova experiência com outros estilos musicais, quando participa do show Índia, de Gal Costa, e Refazenda, de Gilberto Gil. Entre outros shows feitos a convite de diversos artistas da música popular brasileira, com Caetano Veloso, Chico Buarque, Sivuca, enfim, um artista reverenciado por todos.
A notícia da morte do exímio sanfoneiro, cantor e compositor, não pegou a população brasileira de surpresa, o músico há seis anos se tratava de um câncer no pulmão. Em 17 de dezembro de 2012, teve complicações, e foi internado às pressas na Unidade de Terapia Intensiva Coronariana do Hospital Santa Joana, no Recife. Em 13 de janeiro de 2013, a pedido da família, segundo a ex-mulher de Dominguinhos, a cantora e compositora Guadalupe Mendonça, foi transferido para o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, permanecendo até o seu falecimento que transcorreu dia 23 de julho deste ano, aos 72 anos, deixando uma rica bagagem cultural e a conquista do prêmio Grammy Latino, em 2012.
Nos últimos dias venho acompanhando via parabólica, a programação da TV Nordeste, no Recife. Ontem (24), transmitiram cenas de homenagens a Dominguinhos, feita por diversos músicos no Festival de Inverno, realizado na Veneza brasileira. A TV foi às ruas da grande cidade e ouviu o povo cantar os sucessos do ilustre filho pernambucano. Entrevistou Genival Lacerda, que foi com Luiz Gonzaga, padrinho de casamento desse sanfoneiro cultuado por seu povo. A compositora e cantora Anastácia, lamentou a perda do amigo e falou das composições feitas em parceria. Ressalva-se que o músico sempre fez questão de dizer que aprendeu a compor com Anastácia. Não faltaram os versos da literatura de cordel, escrito pelo poeta pernambucano José Evangelista. Em Fortaleza, o poeta de Tauá, Paulo de Tarso, foi rápido, escreveu O ENCONTRO DE DOMINGUINHOS COM GONZAGÃO LÁ NO CÉU, com versos que descrevem a bagagem cultural desse que influenciou ao logo da carreira, gerações de músicos pelo Brasil.
“Era vinte e três de julho
De dois mil e treze o ano
Nosso mestre Dominguinhos
Subiu ao Pai soberano
Foi fazer festa no céu
Longe de qualquer tirano.”
“Grande nome da sanfona
Dominguinhos foi valente
No começo dessa noite
Já deixou o céu contente
Encontrou-se com Gonzaga
Jesus estava presente.”
Do Rio de Janeiro recebi da poetisa Dalinha Catunda, cearense de Ipueiras, esta estrofe do cordel A PARTIDA DE DOMINGUINHOS:
Uma sanfona emudece
Um sanfoneiro partiu.
Quem Dominguinhos ouviu
A sua voz não esquece.
O seu canto além de prece,
Foi encanto e louvação,
Encantou serra e sertão
Quem de Lua foi herdeiro,
Partiu nosso sanfoneiro
Partindo meu coração.
De dois mil e treze o ano
Nosso mestre Dominguinhos
Subiu ao Pai soberano
Foi fazer festa no céu
Longe de qualquer tirano.”
“Grande nome da sanfona
Dominguinhos foi valente
No começo dessa noite
Já deixou o céu contente
Encontrou-se com Gonzaga
Jesus estava presente.”
Do Rio de Janeiro recebi da poetisa Dalinha Catunda, cearense de Ipueiras, esta estrofe do cordel A PARTIDA DE DOMINGUINHOS:
Uma sanfona emudece
Um sanfoneiro partiu.
Quem Dominguinhos ouviu
A sua voz não esquece.
O seu canto além de prece,
Foi encanto e louvação,
Encantou serra e sertão
Quem de Lua foi herdeiro,
Partiu nosso sanfoneiro
Partindo meu coração.
O poeta Pardal Presidente do CECORDEL(Fortaleza), escreveu:
Gonzagão um dia disse:
Um herdeiro eu vou deixar
Um herdeiro eu vou deixar
Pois o fole da sanfona
Só ele sabe puxar
Dominguinhos, este o herdeiro,
Hoje no céu é o primeiro
Pra com seu mestre tocar. 25/07/2013
A poetisa Vânia Freitas(Fortaleza-CE), enfatizou:
As lágrimas do teu povo
Vão rolar pelo forró.
Vão rolar pelo forró.
A sanfona vai gemer
Com saudade do xodó
De Domingos, sanfoneiro,
Que alegrou o brasileiro
Com a força do seu gogó. 25/07/2013
No impulso da emoção, não poderia deixar passar em branco, a minha homenagem ao saudoso mestre do acordeon, através do cordel UM ADEUS AO HERDEIRO DE GONZAGÃO:
Estava ouvindo uma rádio
Que é rica de informação
Quando ouvi tocar um xote
E fizeram a narração
Como cortando caminhos
Disseram, aí, Dominguinhos
Para o céu fez ascensão.
Fui ouvir outra emissora
E essa sendo nordestina
Era feito um especial
No som de uma concertina
Chico Paes tocava forte
Pro sanfoneiro do norte
Uma homenagem que assina.
Concretizava a notícia
Tristonha naquele dia
Enlutando a nossa música
E um trono que se esvazia
Pela peculiaridade
De rica expressividade
Que a deusa musa extasia.
*Poeta e graduado em História - Sábado(27),Guaipuan prestou homenagem a Dominguinhos, na RÁDIO PITAGUARY - AM -1340 KHZ http://radiopitaguaryam.com/
ACESSE também: http://www.cecordel.com.br/
CECORDEL 25 ANOS
Na amplidão prateada
ResponderExcluirUma imagem vaga ao léu...
E o céu se fez mais belo
Com seu majestoso véu,
Porque Dominguinhos é
Mais uma estrela no céu.
Caro Guaipuan, Linda, completa e merecida homenagem.
ResponderExcluirMeu abraço.
*
Dominguinhos partiu
Deixando bonita história
Que guardarei com carinho
No meu baú da memória.
A sanfona foi seu destino
Tocava desde menino
Com ela alcançou a glória.
*
Dalinha Catunda
Parabéns!
ResponderExcluirAgradecemos a rica participação de vocês
Cecordel