quinta-feira, 6 de dezembro de 2018


O CORDEL

• Prof. Oswald Barroso

Cordel O cordel, por questão de origem, é reconhecido como forma de expressão oral. A oralidade está presente na sua formação, só podendo ser concebido em função da palavra falada. Sempre foi indiferente ao formalismo da escrita. O cantador foi o grande divulgador desse tipo de poesia popular. Depois que passou a ser impressa, juntou-se a ele nessa missão, o folheteiro, que fazia a propaganda dos poemas com o recurso da voz, no meio do povo, nas feiras, nos mercados, nas praças. Poesia narrativa, impressa e popular. Foi esta a definição mais ampla de sentido, embora reduzida de palavras, que resultou de uma conversa entre dois estudiosos do Cordel, Veríssimo de Melo e Raimond Cantel, num ciclo de debates sobre Cordel, promovido em Fortaleza, no ano de l976. Se algum reparo precisa deve ficar por conta da palavra “popular”, sob revisão atualmente em face da dificuldade de se determinar, com precisão, o marco fronteiriço com o 'erudito', num mundo de comunicação globalizada, onde estas estruturas se ramificam cada vez mais. Enquanto não se chega a uma conclusão vamos nos amparar neste conceito advertindo, entretanto, sobre essa moderna cumplicidade entre o 'popular' e o 'erudito'. Problemática à parte o Ceará continua sendo um dos importantes centro produtores de folhetos de cordel do Nordeste, tendo algumas cidades da região do Cariri, além de Fortaleza, como referencia em termos quantitativos. Muito embora as citadas regiões se destaquem por força de valores culturais enraizados, a Literatura de Cordel se faz presente, hoje, em praticamente todo o Estado, sendo difícil encontrar um município que não tenha o seu poeta de cordel. O caso de Juazeiro. É tradição cuja história passa, necessariamente, pelo Cariri tendo Juazeiro do Norte como centro de convergência desde quando o alagoano José Bernardo da Silva, alí estabeleceu negócio voltado para a indústria gráfica com especialidade em folhetos de Cordel, passando a dominar, por quase três décadas, o mercado nordestino de folhetos, antes promissor em outros estados da região. Foi tempo bastante para ensejar um forte núcleo disseminador dessa poesia, amparada pela tendência natural do Cariri sempre rico em manifestações culturais de caráter popular. Em Juazeiro vamos encontrar todos os referenciais históricos que marcam a enorme contribuição que deu ao Cordel sem esquecer que ainda hoje persiste como centro criador e difusor da poesia popular, onde se enquadram
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• FONTE: Sinf Secult(Sistema de Informação da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará). Relatório de Listagem de Patrimônio Imaterial. (www. sinf.secult.ce.gov.br)

nomes como Abraão Batista, os irmãos Bandeira, Hamurabi Batista , Francisco Zênio, entre outros. Há alguns anos foi criada a Sociedade dos Poetas Malditos, que reune, entre poetas de verso livre, alguns cordelistas da nova geração juazeirense. Na vizinha cidade do Crato o movimento em torno do Cordel ganhou reforço depois da criação da Academia do Cordel do Crato composta por 25, poetas, tendo à frente o cordelista William Brito A cidade de Potengi vem dando sinais de vitalidade com a criação da Academia dos Cordelistas de Potengi, instituída em 2005, agasalhando l5 cordelistas, tendo à frente Marco Aurélio Rodrigues. Virando o mapa, seguindo para Itapajé vamos encontrar outro núcleo promissor, implantado por Francisco Sérgio Magalhães, artista, poeta de cordel, com vários folhetos editados e um trabalho cultural bem articulado nas escolas da comunidade, envolvendo poesia popular, xilogravura, música, teatro de rua e circo. Fortaleza, enquanto cidade metropolitana aglutinadora de movimentos artísticos de natureza diversa, acolhe grande número de cordelistas os quais participam ativamente através de entidades como o Centro Cultural dos Cordelistas do Estado do Ceará – CECORDEL, cujas reuniões são realizadas aos primeiros sábados de cada mês, na Casa de Juvenal Galeno. A Academia Brasileira do Cordel – ABC, a Tupynanquim Editôra e a Sociedade dos Poetas de Maracanau – SOPOEMA. Em torno dessas entidades circulam poetas experientes como Guaipuan VieiraPaulo de TarsoGerardo Carvalho Frota (Pardal)João Batista Fontenele (Jotabê)Otávio Menezes, Lucarocas, Chico Salvino, Vânia Freitas, José Furtado, Édson Neto, Pedro Paulo Paulino, Klevisson Viana, Rouxinol do Rinaré, Francisco Ribeiro, Jesus Rodrigues Sindeaux, Arievaldo Viana, Vidal Santos, Zé Maria de Fortaleza, entre outros. Sem ligações diretas com entidades podemos citar os nomes de Jair Moraes, Marcos Silva, José Leite de Oliveira Junior (Leite Jr.), Fernando Paixão, José Anchieta Dantas Araújo e Gadelha do Cordel. Independente de vinculações institucionais todo esse movimento abriu caminho para ampliar o comércio do folheto de cordel, iniciado, em Fortaleza, no final da década de 80, pelo mencionado Cecordel quando instalou, no centro da cidade, uma banca especializada em folhetos. A iniciativa foi seguida pelos integrantes da Tupynanquim que mantiveram, durante algum tempo, um grande acervo de folhetos para vendas num quiosque de atendimento ao turista, administrado pela Prefeitura, na Praça do Ferreira. Esse ponto foi desativado pela Prefeitura mas um variado sortimento de folhetos de cordel, da produção local, pode ser encontrado em bancas de revistas no centro da cidade entre as quais a Banca do Humor, na referida praça. A Tupynanquim optou pela comercialização avulsa espalhando seus produtos por bancas de jornais e mantendo presença sistemática nos principais eventos culturais de Fortaleza e de outros estados. O Cecordel mantém um ponto de venda, a “Banca Nacional do Cordel”, instalado, com apoio da Fundação Demócrito Rocha, no Largo dos Correios, mas já apresenta sinais de decadência não tendo ali, pelo que se observa, o grosso da produção local e há muito não consta em suas prateleiras trabalhos dos próprios poetas que são membros da entidade.

CORDEL NOS ANOS 80