MANOEL MONTEIRO, UM MESTRE DO CORDEL
Por Guaipuan Vieira*
Passei a conhecer a poesia de Manoel Monteiro, nos idos de 1987, através de intercâmbio/permuta de títulos com o poeta cordelista Antonio Américo de Medeiros, de Patos, Paraíba, já falecido. Entre os folhetos recebidos, que compõem o meu acervo, vinha desse poeta pernambucano, de Bezerro, que em meados de 1955 escolheu Campina Grande-PB, para ser o berço de sua rica produção e ganhar notoriedade. Com o surgimento das Feiras do Livro em Fortaleza e a posteriori a Bienal Internacional do Livro, seus cordéis tornaram-se mais acessíveis, a exemplo de outros autores nordestinos. Em 2012 ao falar-lhe sobre a minha posse na Academia Brasileira de Literatura de Cordel –ABLC, que tem sede no Rio de Janeiro, comentou sobre um projeto que tinha em mente e de seu estado de saúde. Congratulou-me com o meu ingresso naquela importante academia, enfatizando: “estava demorando, poeta!...” Sua voz soava espontânea, vindo da alma. Era Manoel Monteiro, romanceiro popular, simples, sem vaidade, que não arredava mão de sua origem de nordestino nascido no sertão. A nossa cultura perde mais um expoente, mas sua obra permanecerá decantada por gerações, pesando-nos a responsabilidade de mantermos o equilíbrio dessa literatura popular, para que os novos poetas façam seguidores.
Monteiro atendeu chamado
Do divino Onipotente,
Consigo levou presente,
O seu verso bem rimado;
Sendo recepcionado
Por poeta e santarada,
São Genésio fez balada
Nas cordas de uma viola,
E Aderaldo então decola
Com sua rima improvisada.
Foi um baião de repente
Que Deus parou um instante,
Para ouvir rima possante
E descansar sua mente;
Aquele povo presente
Fez eco no céu inteiro,
Nisso Manoel Monteiro
Com seu verso de improviso
Parou todo o paraíso
Quebrando aquele roteiro.
Deus sorriu naquele instante
Gabriel fez narração:
Toda aquele geração
Que tem arte é importante,
Porque muito vai adiante
Com seu espírito capaz
E um novo artista se faz
Entre a luz de uma criança
É essa a nossa esperança
Que na Terra reine a paz.
Monteiro então foi levado
Ao teatro da cultura,
Com os poetas se mistura
Por todos foi bem saudado,
Chegou um santo apressado
O levou sem ter demora
Comentou: está na hora
Vai haver celebração
Com padre Ciço Romão
Que o Nordeste tanto adora.
*ABLC-Cadeira nº 19, Patrono: Leonardo Mota
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