sábado, 8 de junho de 2013

      ADAGIÁRIO NO CORDEL 
HOMENAGEM A LEONARDO MOTA

















O folclore é arte, é vida
Conjunto das tradições,
Das crendices e das lendas,
De um país, suas gerações;
São adágios e provérbios,
O ninar e entre canções.

O folclore está presente
Em tudo que é popular,
Esse termo William Thoms
Em Londres fez registrar
Para os anais da história
De seu povo e seu lugar.

No Brasil, Leonardo Mota,
Com grande dedicação,
Percorreu o país inteiro
E fez toda anotação
Dos adágios brasileiros,
Registro em primeira mão.

Para o doutor folclorista
Eu presto minha homenagem,
Neste folheto de feira,
Que também é reportagem.
Já foi jornal do sertão
E preserva sua bagagem.

Pois vovó sempre falava,
Nesse doutor folclorista,
Que em certa ocasião
Foi-lhe fazer entrevista,
Em Currais no Piauí,
Na fazenda Boa vista.

As histórias bem contadas,
Na minha rima eu percorro,
Conforme vovó falava
Pra papai e mãe Socorro:
“Mais vale um cachorro amigo
Do que um amigo cachorro.”

Ela pitando o cachimbo,
Os adágios nos dizia:
“Cachorro que acua alma
Não é boa freguesia
É como mulher que trai
O marido à luz do dia.”

Pois dizia haver três coisas
Que não podem consertar:
“Cachorro que pega bode,
Mulher que passa a errar,
E o homem que é mentiroso
Não se deve confiar”.

E com sua linguagem farta
Da boa expressão popular,
Quando algo era mal feito,
Sempre tinha o que falar:
“O costume do cachimbo
Que faz a boca entortar”.

Há coisas que, nem agouro,
Dizia ela, que atormenta:
“É se ter um mal vizinho,
Que nem o diabo aguenta.
Uma casa com cupim,
Ou então mulher briguenta.”

E continuava a prosa
Com aquela sua perfeição:
“Dizia que há ciência
Pra pegar boi e ladrão:
Pelo chocalho do outro,
Sabe a sua posição.”

À noitinha ela rezava
Tendo o terço em sua mão,
Ao seu lado a filharada,
Juntos faziam o refrão,
Mas antes de nos benzer
Tinha uma forte oração

“Deus te livre de sezão,
Tosse braba ou catapora;
Do sarampo e coqueluche
Que o vento trás lá de fora
E da queda de espinhela,
Dor perversa que demora”.

“Deus te livre de caxumba,
Da sífilis nem pensar,
Barriga d’água ou gastrite,
Nó na tripa ou calazar;
Do maldito reumatismo
Que faz o cristão penar”.

Depois da reza dizia:
“Só assim Deus nos defende
Dos males que há na vida
Que, pelo mundo, se estende.
Dormimos pra acordar cedo,
Quem mais vive mais aprende”.

Quando o sol, por trás da serra,
Deslumbrava a linda aurora,
Acordava a filharada,
Dizendo já está na hora:
“Quem precisa é quem se estira,
Quem não quer é quem demora”


(Folheto com 8 Páginas,31 estrofes)
Autor: Guaipuan Vieira. Membro da Academia 
Brasileira de Literatura de Cordel - ABLC,
Cadeira número 19, Patrono: Leonardo Mota.
ACESSE:
http://www.cecordel.com.br/

           

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