domingo, 9 de junho de 2013

JUVENAL EVANGELISTA SANTOS
UM PROPAGANDISTA DO VERSO 


Por Guaipuan Vieira

 Até o final da década de 90, o poeta repentista Juvenal Evangelista Santos, vendia em Teresina, Piauí, em uma Kombi usada, cordéis e fitas de cantoria. A espécie de banca móvel, logo chamava à atenção da clientela, pelo som que saía de uma amplificadora instalada no teto do veículo. Mantinha-se no centro da cidade, na Praça Marechal Deodoro da Fonseca, mais conhecida como Praça da Bandeira, próximo do Mercado Central, da feira do troca-troca, ponto estratégico para aquele misto de propagandista e folheiro vender o cordel e manter a preservação desse gênero literário que resistia ao avanço da era moderna. Nas minhas visitas a Teresina, sempre conversava com o velho poeta. Em 1985 informou-me que vivia contra o tempo, mas resistindo aos grandes veículos de informação: “Sei que o cordel é ignorado por muitos. Quem ainda compra, pingando, é a velha geração. Precisa que alguém mais jovem e do ramo, faça algo em prol da nossa cultura, porque ela está agonizando”. De fato, pesquisadores já anunciavam sua morte.  O desabafo em forma de profecia vinha do experiente poeta paraibano e radicado na Verde Capital piauiense. 33 anos de profissão. Falou-me ainda, que tinha projetos para a publicação de um livro (coletânea de cordéis). Fez referência ao Festival de Violeiros de Teresina, evento cultural criado pelo professor Pedro Mendes Ribeiro, e que ganhava notoriedade em todo o Nordeste. Hoje, um expoente dessa arte no Brasil. Juvenal, mesmo sem perspectiva de melhoria de venda do cordel, resistia em manter essa literatura. Em contra-partida, a poesia de autores piauienses era estudada na Europa. A notícia fora veiculada nos jornais O Dia,  de 18/19 de
agosto e O Estado,  de 15 de agosto, ambos de 1985, que destacavam pesquisas de mestrado e doutorado dos franceses Charles Piriou e Andréa Ghighi, da Universidade de Paris, bem como da existência de trabalhos franceses sobre a Literatura de Cordel. Mas a literatura de bancada, exceto as exceções desses poetas, até a metade da década de 80, servia de simples peça de museu. De Juvenal Evangelista, destacamos os cordéis: O MÁRTIR GREGÓRIO, MARCHA DO MUNDO –UM CONSELHO PARA UMA NAÇÃO SER FELIZ, O PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA, FESTIVAL NO MARANHÃO, O FILHO QUE MATOU A MÃE (CABEÇA DE CUIA), O MÁRTIR DA NOVA REPÚBLICA (VIDA E MORTE DE TANCREDO), BATALHA DO JENIPAPO e COMETA DE HALLEY. O poeta mudou-se para Boa Vista-RR, e segundo seus familiares sentia-se feliz pelo renascimento da arte que tanto defendeu. Faleceu em 2000, naquele estado, deixando um rico acervo de cordel. Parte desse material está no arquivo do Cecordel
.

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