UM PROPAGANDISTA DO VERSO
Por Guaipuan Vieira
Até o final da década de 90, o poeta repentista Juvenal Evangelista
Santos, vendia em Teresina, Piauí, em uma Kombi usada, cordéis e fitas de cantoria. A
espécie de banca móvel, logo chamava à atenção da clientela, pelo som que saía
de uma amplificadora instalada no teto do veículo. Mantinha-se no centro da
cidade, na Praça Marechal Deodoro da Fonseca, mais conhecida como Praça da
Bandeira, próximo do Mercado Central, da feira do troca-troca, ponto
estratégico para aquele misto de propagandista e folheiro vender o cordel e
manter a preservação desse gênero literário que resistia ao avanço da era
moderna. Nas minhas visitas a Teresina, sempre conversava com o velho poeta. Em
1985 informou-me que vivia contra o tempo, mas resistindo aos grandes veículos
de informação: “Sei que o cordel é ignorado por muitos. Quem ainda
compra, pingando, é a velha geração. Precisa que alguém mais jovem e do ramo, faça algo em prol da nossa
cultura, porque ela está agonizando”. De fato, pesquisadores já
anunciavam sua morte. O desabafo em
forma de profecia vinha do experiente poeta paraibano e radicado na Verde
Capital piauiense. 33 anos de profissão. Falou-me ainda, que tinha projetos para
a publicação de um livro (coletânea de cordéis). Fez referência ao Festival de
Violeiros de Teresina, evento cultural criado pelo professor Pedro Mendes
Ribeiro, e que ganhava notoriedade em todo o Nordeste. Hoje, um expoente dessa
arte no Brasil. Juvenal, mesmo sem perspectiva de melhoria de venda do cordel,
resistia em manter essa literatura. Em contra-partida, a poesia de autores
piauienses era estudada na Europa. A notícia fora veiculada nos jornais O Dia, de 18/19 de
agosto e O Estado, de 15 de agosto, ambos de 1985, que destacavam
pesquisas de mestrado e doutorado dos franceses Charles Piriou e Andréa Ghighi,
da Universidade de Paris, bem como da existência de trabalhos franceses sobre a
Literatura de Cordel. Mas a literatura de bancada, exceto as exceções desses
poetas, até a metade da década de 80,
servia de simples peça de museu. De Juvenal Evangelista, destacamos os cordéis:
O MÁRTIR GREGÓRIO, MARCHA DO MUNDO –UM CONSELHO PARA UMA NAÇÃO SER FELIZ, O
PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA, FESTIVAL NO MARANHÃO, O FILHO QUE MATOU A MÃE
(CABEÇA DE CUIA), O MÁRTIR DA NOVA REPÚBLICA (VIDA E MORTE DE TANCREDO),
BATALHA DO JENIPAPO e COMETA DE HALLEY. O poeta mudou-se para Boa Vista-RR, e
segundo seus familiares sentia-se feliz pelo renascimento da arte que tanto
defendeu. Faleceu em 2000, naquele estado, deixando um rico acervo de cordel.
Parte desse material está no arquivo do Cecordel
.
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