PRÊMIO DE CORDÉIS EM 2005 (MEMÓRIA VIVA)
Por Guaipuan Vieira
Muitos acontecimentos que são subsídios para história da cultura de um povo, às vezes passam despercebidos dos holofotes da imprensa. O fato que nos chama atenção refere-se o lançamento de cordéis premiados pela Secretaria de Cultura do estado do Ceará, em 2005, e que foram ganhadores os poetas Jotabê, Rouxinol do Rinaré, J. Rogaciano, Domingos Alves E. Neto, Chico Salvino, Guaipuan Vieira, esse com dois títulos, Afonso Nunes Vieira e José Furtado. Acompanhemos as primeiras estrofes desses folhetos de feira, de Jotabê A juventude e as drogas (primeiro lugar):
Com muita filosofia
Inspiração e virtude
Vou escrever sobre as DROGAS
Para você que se ilude
Que vive por toda Terra
Destruindo a juventude.
São vários tipos de DROGAS
Que leva o jovem à ruina
Maconha, êxtase e crak
Loló, artane e heroína
Rivotril e rohypinol
O éter e o tryptanol
Benflogin e a cocaína (...)
Comandante Che Guevara - O Guerrilheiro(José Rogaciano Siqueira)
Em cumprimento a um dever
Da consciência que ampara
Falo da vida de um homem
De uma trajetória rara
Exemplo socialista
Comandante Che Guevara.
Nasceu em 15 de julho
Em Rosário, na Argentina
No ano de vinte e oito
Conforme a data combina
Para ser líder e herói
De toda América Latina (…)
A prisão da Incendiária (Domingos Alves Evangelista Neto)
Leitor, quem não conheceu
A mais famosa escritora?
De crônicas e romances
Nessa arte foi doutora
Rachel de Queiroz, o nome
D'uma grande vencedora.
Nasceu em Fortaleza
Capital do Ceará
Mas parte de sua família
Veio lá de Quixadá
Sem falar que descendia
Da estirpe dos Alencar.
Guaipuan Vieira teve dois cordéis premiados: Sinhá D'Amora uma dama das artes plásticas e Perdidos em alto mar – A história dos pescadores africanos resgatados a 150Km da costa de Camocim -CE.
Sinhá D'Amora:
Peço a luz de Deus divino
Que ilumine a minha mente
Para que meu versejar
Nunca de mim fique ausente
Pois preciso nesta hora
Vir versar Sinhá D'Amora
Que na arte está presente.
Para mim não foi surpresa
Tê-la como personagem
Na cultura de cordel
Por sua rica bagagem.
Além disso, em cada tela
Sua expressão tão singela,
Transmitindo uma mensagem (...)
Alto Mar:
Foi em vinte de dezembro
Do ano noventa e um,
Pescadores africanos
Cumpriram triste jejum
Mas sem perderem o seu ânimo
Em um só momento algum.
José Antônio e Tomé
Também Euzébio Garcia
Da ilha de São Tiago
Foram a uma pescaria
Mas uma fatalidade
Aconteceu nesse dia (...)
Morre Raquel de Queiroz – A escritora da Vida (Afonso Nunes Vieira)
Na vida acontece caso
Que abala até nossa voz
Agora em nosso Brasil
Aconteceu um pra nós
Para gerar mais tristeza
Morreu Raquel de Queiroz
Raquel de Queiroz que foi
Uma mulher atrativa
Partiu para outra vida
Com distinção positiva
Digo com toda certeza
Para nós está sempre viva (...)
Raquel de Queiroz Vida, Obra e um Adeus (Rouxinol do Rinaré)
Sorrateira a morte chega,
Deixa um vazio entre nós.
No mundo dos romancistas
Calou-se mais uma voz
Quando dormindo, em seu leito,
Morreu Raquel de Queiroz.
Como aqui na Terra foi
Escritora genial,
No céu, por certo, os amigos
Empossaram a imortal
Na Academia de Letras
Da Corte celestial (...)
Chico Salvino focaliza outro personagem da história cearense com o cordel Padre Vieira reconheceu o valor do jumento.
O jumento está de luto
O mais triste aconteceu
Partiu para a eternidade
O homem que o defendeu
Agora só há lamento
Sem defesa está o jumento
Padre Vieira morreu.
Várzea Alegre também chora
A dor do filho querido
Lá na Serra dos Cavalos
Em dezenove nascido
Com oitenta e três de idade
Partiu e deixou saudade
E nunca será esquecido (...)
Padre Vieira ficou imortalizado na canção de Luiz Gonzaga e Zé Clementino, O Jumento é nosso irmão.
O poeta José Furtado de Carvalho descreve sobre o mestre Antônio Aleixo, considerado um dos poetas populares algarvios de maior relevo, famoso pela sua ironia e pela crítica social sempre presente nos seus versos. Antônio Aleixo também é recordado por ter sido simples, humilde e semi-analfabeto, e ainda assim ter deixado como legado uma obra poética singular no panorama literário português da primeira metade do século XX.
Dos mestres do Ceará
Um homem deixou saudade
Na arte de ensinar
Provou ter capacidade
Do saber era dotado
Foi um privilegiado
Tinha personalidade.
Dentro da pedagogia
Não cursou, nasceu formado
Como grande autodidata
Foi sábio, foi invejado
Como homem de conceito
Antonio Aleixo no peito.
Trazia o saber cravado. Essa caixa de cordéis da SECULT, lembra-nos os poetas do CECORDEL, que nos anos 80 disputavam entre os cordelistas o melhor folheto escrito sobre o personagem em evidência. É o mesmo que consta nessa caixa de cordéis, vemos a escritora Rachel de Queiroz descrita nas rimas dos poetas cearenses. A temática é valiosa para a organização de uma antologia.