terça-feira, 10 de janeiro de 2012

    Cem anos do poeta Hermes Vieira
Por Guaipuan Vieira

 Hermes Vieira é um poeta nordestino, de ação consciente. Precisamente, um folclorista e indianista piauiense, de Valença. Nascido na Fazenda Caiçara em 23 de setembro de 1911. Aos 89 anos, na capital cearense, numa visão sintética e objetiva da realidade circunstante e transcendental, descrevia o mais lírico e narrativo dos poemas, entre o silêncio daquelas horas e o lugar à meditação. A imortalidade abraçava-lhe enriquecendo muito mais a sua gesta nordestina. Deixara dois livros publicados e alguns inéditos. (...) era um sonhador, visionário de um mundo todo vivido de experiências,, que deslumbrava sua avassaladora imaginação como um artesão e alquimista das letras, porque há um tempo ele assumia ares da poesia cabocla pelo dom de fazer de seus poemas a verdadeira expressão da poética folclórica, ora sofismando com espontaneidade a mensagem textual, ora dedilhado sua verve com romancista.


O mundo de Hemes Vieira
              Por Josias Carneiro
           (Da Academia Piauiense de Letras,
     na Apresentação do Livro “Piauí Sertão”-1988)

O mundo fantasioso de Hermes Vieira é uma colcha de retalhos da vida campestre. Os modismos da linguagem não transfigurados, a precisão de detalhes, as singularidades dos costumes dão ao poeta e escritor a medida da capacidade inventiva desse regionalista, indianista e cultuador devotado das manifestações populares do Sertão.


O vasto quadro do sobrenatural com suas assombrações, seus mitos, suas fábulas e costumes simples da vida rural, são a tônica da fecunda produção literária de Hermes Vieira.


Uma convivência intima e demorada com os selvícolas do Maranhão e Pará, motivou no poeta a elaboração de um léxico pratico da Língua Tupi.


Ardoroso enamorado da natureza, a maioria de seus poemas é feito em contato com a mata, nas caçadas semanais, trepado em árvores, na paciente espera do animal que pretende sacrificar. As forças físicas, a chuva, os relâmpagos, os trovões, o sol, as lagoas, as caatingas, os roçados, as queimadas, a fauna, os mistérios das selvas, enchem de harmonia e encantamento o seu volumoso Nordeste, obra monumental inédita igual a Lira Sertaneja, de Hermínio Castelo Branco e outros.


Hermes Vieira nasceu em 23 de setembro de 1911, na fazenda Caiçara, no antigo Município de Valença do Piauí pertencente hoje ao Distrito de Elesbão Veloso. Foram seus pais: o cearense Raimundo Rodrigues Cardoso Vieira e a jurumenhense Joaquina de Sousa Vieira. Quase não teve escolaridade. Pertenceu ao Corpo da Policia Militar do Piauí e trabalhou na extinta Campanha contra a Febre Amarela. Foi no decorrer desse último emprego que conheceu de perto a hiléia amazônica.


Desde criança tinha por ocupação brincar com as palavras, dando-lhes ritmos, harmonia e som. Concebe Hermes Vieira uma poesia sugestiva, rica de imagens, coloquial, imprimindo-se um cunho de genialidade e lirismo, na ampliação mágica e cósmica de sua riqueza imaginativa.


Os segredos impenetráveis da natureza física e espiritual alimentam-lhe a inspiração brilhante e arrebatadora. Seu poemeto O Cabeça -de - Cuia foge às estruturas dos entrechos repetidos e já vistos da tragédia.


A originalidade e o vigor em Hermes Vieira, estão presentes no ficcionismo dialogal mantido entre o pescador e o bicho apavorante do rio.



De A Musa Esquesida, eis os versos de Hermes, escrito em 1953




Fonte: http://www.amusaesquecida.com/2012/01/despedida.html



E assim descrevem os cordelistas:  

No estado do Piauí
Na fazenda Caiçara
Onde há mata de piquí
Terra fértil, terra rara,
Nasceu o Hermes Vieira
Com poética verdadeira,
Que entre a voz da grande massa
Se fez poeta de raça
Desta terra brasileira.

Sempre será mensageiro
Da cultura popular,
Com seu verso exemplar
Entre o solo brasileiro.
E eu pôs tinta no tinteiro
Pra lembrar seu aniversário,
Que completa um centenário,
Celebrando o nascimento
Desse vate de talento,
Que pra nós já é lendário.
   (Cariri do Cordel-Filho)

O poeta Hermes Vieira
Embora sem conhecê-lo
Pude ver pelos seus versos
Que versejava com zelo
E pra qualquer geração
Ele serve de modelo.

Seu verso metrificado
Tem sustento garantido
Passa seu recado claro
Para quem tiver ouvido
Tocando profundamente
Em quem também tiver lido.

Deste bom poeta li
Um verso que nos comove
Quem quiser experimente
Que tire a prova dos nove
Sinta o gosto do seu verso
Pois não tem quem lhe reprove.

Em nomes dos bons poetas
Que deram nesta carreira
A paixão em fazer verso
Perante cada barreira
De tantos nomes que têm
Menciono Hermes Vieira.

Hermes Vieira não teve
De contar em sua vida
Em receber homenagem
A tal honra merecida
Mostrada a sua pessoa
Mostro na sua partida. (Edson Neto)




                                    Há doze anos que não ouço
Aquela rima brejeira
De um verso concatenado
Com a métrica verdadeira;
Porque partiu no silêncio...
O poeta Hermes Vieira.

Estes anos mais saudade
De meu metre e pai amado
Que está no altar de cima
Com Cristo ressuscitado;
Porém hoje seu poema
  É por todos nós lembrado.

Sei que é de seu agrado
Estas justas homenagens
Que seu rincão Piauí
Traduz em suas mensagens
Lembrando o velho poeta
Por onde fez as paragens.
(Guaipuan Vieira -Filho)



Fiquei muito impressionado
Quando li Hermes Vieira
É um poeta popular
Que traz em si a verdadeira
E a mais legítima expressão
Cravada neste Sertão
De uma cultura altaneira.

Eu com seu conterrâneo
Me sinto muito orgulhoso
Pena que pessoalmente
Eu não tive o precioso
Prazer de ter conhecido
Hermes Vieira e sentido
Seu poetar valioso... (Gerardo Carvalho Frota(Pardal)


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