segunda-feira, 22 de abril de 2013

CORDEL E REPENTE
 Por Guaipuan Vieira

Sábado (19), na apresentação do programa Canto Sertanejo, na Rádio Pitaguary AM 1340 Khz , recebi um telefonema do poeta e folheteiro Elias Queiroz, um dos poucos agentes culturais cearenses, que desde 1970, especializou-se em promover encontro de violeiros em bares, feiras públicas e churrascarias, com o objetivo maior de vender a literatura de cordel e CD de cantadores. (Foto: Guaipuan Vieira entrevistando as poetisas Tetê e Maria do Carneiro) Elias foi procurado pelo Sr. Juarez Dias, residente em Belém do Pará, que lhe encomendara alguns cordéis meus. O encontro deu-se domingo (20), no “Bar dos Amigos”, no Bairro Ayrton Sena, em Fortaleza, de propriedade do Sr. Edmar Rodrigues Oliveira, que abriu espaço para a apresentação de cantorias, gênero literário de grande evidência no Nordeste e em algumas capitais do sul do país.
O Bar estava lotado de admiradores desse gênero literário. Apresentaram-se os repentistas José Soares, Humberto Lopes, João Omoroso, as poetisas Tetê e Maria  do Carneiro, essa cancioneira, de voz maviosa, já correu o Nordeste impressionando a todos com seu rico repertório. O bom desse encontro, além de estar no seio da gesta nordestina, origem do poeta popular, foi que vendi parte de minha produção literária (cordel e o CD – Cordel, viola e Repente, gravado pelos repentistas Antonio Jocélio e José Vicente), em sua 4ª Edição. É bom que se diga, que o poeta repentista, seja ele de grau mais elevado na cantoria, dos grandes festivais de violeiros, continua mantendo essa tradição.

Galerias de fotos

                  Elias Queiroz(exibe alguns cordéis), Guaipuan e
                                         Maria  Carneiro

João Omoroso e João Nogueira

Humberto Lopes e João Nogueira
                           
                             Maria do Carneiro(Quixadá-CE)

                                          José Soares(RN) 

Poetisa Tetê

terça-feira, 2 de abril de 2013


MEMÓRIA POÉTICA
Por Guaipuan Vieira

ZÉ DA PRATA nasceu na localidade Prata, município de Altos, região metropolitana de Teresina, Piauí, (1871-1949). Foi repentista de grande talento, também tocava sanfona de oito baixos. Não deixou nada escrito, a exemplo de muitos desse gênero poético. Seus versos satíricos com erotismo e de crítica de cunho político, registraram fatos e acontecimentos de gerações de sua terra e vizinhança, que foram memorizados por admiradores e reproduzidos oralmente por gerações. Somente em 1972 sua poesia ganhou destaque na Antologia de sonetos piauienses, do poeta e acadêmico Félix Aires. A obra despertou o interesse de pesquisadores e estudiosos por esse poeta polêmico para a sociedade de sua época e que as gerações passaram a admirá-lo. Na intimidade dos fatos  brinca com a rima na construção dos versos.


Eu sou côco catolé,
Sou padre dizendo missa,
Sou o chefe de puliça,
Sou catete, sou piloto,
Sou uma corda de couro,
Eu sou prata, eu sou ouro,
Sou vila e sou cidade,
Sou casa de caridade,
Sou sargento furriel,
Sou tenente-coronel,
Sou major e sou fiscal,
Sou delegado-geral.


FAZENDO DENUNCIA...

A justiça do Estado,
Que se diz justa demais,
Ainda não foi capaz
De dar conta do recado,
Pois o prefeito Zé Prado,
Sem a menor compostura, 
Falsificou escritura
De terras para vender:
Só a justiça não vê
O rato da Prefeitura. 

Consta que no leito de morte, ao lado de familiares, ele versou:

Eu estou passando as horas
Em estado moribundo.
Mas rede e panela velha
Só se acabam pelo fundo.
E talvez nesses três dias
Viajo pra o outro mundo.

Estou aqui padecendo, 
Como a velha carnaúba
Meus lábios estão rosados
Que só tripa de cojuba
E a face tão corada
Que só flor de caraúba.
Só me dão para comer
Um triste mingau de puba.
Tô no pé de uma ladeira
E não sei como é que suba.